terça-feira, 20 de dezembro de 2011

rito teatro terreiro


Nunca vi verão mais friorento. Chuva rápida é costumeira, mas vento frio, nuvem pesada de cinza, chuva de durar noite e dia, não. Esse tempo tá mudado mesmo.
E foi nessa noite de chuva que vi bem forte uma luz de revelação. Essa foi boa!
O caso é que desde a semana antes chamei gente pra ir comigo no tal evento.
Da primeira vez não fui que me enrosquei em história de carochinha e que não conseguia desgarrar do conto de fadas era de jeito nenhum. Não fosse o susto das 12 badaladas e o medo do príncipe virar sapo, caia de vez naquele poço de espelho.
Mas dessa semana era pra ser mesmo. Quem ia comigo via chover a chuva e desistia, primeiro o casal, depois as meninas, depois eu demorando, demorando, querendo mesmo me perder... E não é que fui?
Disseram pra chegar bem cedo se não, não entrava. Pois cheguei mesmo foi atrasada e entrei, sentei primeira na fila e vi tudo com atenção verdadeira.
Que coisa boa ter ido sozinha. Que chuva boa lavou minha alma essa noite.
Que bom mesmo ouvir tão lindas palavras, cada uma delas escolhidas com mãos de poesia de mulher corredora de tempos. Ouvia a menina de terra dizendo cantado as palavras, com sua alma bem índia e gostava demais.
A outra menina, a branquinha, que atriz! E também tinha a outra feita de pedra e vento, a que persegue voz, a que gosta mesmo de falar e falar e faz careta e brinca sabida do seu teatro. Tinha também um menino polêmico: bem muito antes era vaidoso que só e fazia graça demais, agora, mais levinho, encontrou mais eixo, baixou a voz e amansou.
É... o tempo muda a gente mesmo. A vida muda, a história gira, os ciclos se cumprem e vêm e vão pra ver se a gente aprende alguma coisa nessa linha de existência.
Eu já fui, tempo atrás, uma coisa firme e muito sabida. Meus pés pisavam o chão como se fossem de terra e o chão fosse de terra e daí essa integração. Lembro também uma quentura nos braços e nas mãos pulsando energia bem viva e brilhante. Minha boca era enorme por dentro e tudo ficava bem encaixado.
Era uma coisa que eu tomava às vezes... Coisa de gosto ruim, mas quando batia... aí era bom! E vinha isso, essa completude toda eu. Quando terminava eu sorria porque tinha aprendido uma coisa nova de mim mesma.
E não é que hoje, no tal evento, foi assim também! Caramba que eu pensava, ali sentadinha na esteira, que a coisa ia se ajuntar de mim de novo.
Mas acho mesmo que foi isso que aconteceu.
Pois tinha teatro, mas tinha macumba demais também. E eu que tenho esse pezinho no terreiro, já fui me espalhando no bit do tambor. Inda mais vendo a menina de terra toda lindona na minha frente. Tudo ali me conhecia... Pois nem parece, mas já fui parte daquela história! Aquilo dali já foi minha vida durante um tempo. Nem foi tanto assim. Cinco anos. Mas foi alguma coisa importante, isso não dá pra negar.
Eu ali ouvia menos a história que cada um dos detalhes: a dança, o pulso, a cor, os colares da Morena, a luz e as formas nas rendas, cada uma das palavras e os desenhos que elas formavam... Ia assim comendo os pedacinhos pra ver que gosto tinha no final.
Mas quando a branquinha se aproximou com aquela fumacinha de cheiro e a lista de nomes na mão - ...... – fui lançada! A nuca esquentou, a pele arrupiou, a boca cresceu por dento, os pés ficaram no chão, as mãos, os braços... “que é isso? pára, boba! tá sugestionada! é só teatro! nem da coisa se bebeu, pra sentir assim ritual de tu mesma...”, pensei sem pensar, porque tava rolando mesmo e não podia evitar.
Quis chamar “Claudia, olha!”. Mas chamei não. Continuei ali ouvindo a história e seguindo tudo.
Mais macumba e, de repente, assim como um fio de fumaça que se rompe em vento certeiro, me desliguei do passado sapo entalado na guela, fechei ciclo, sorri de aprender coisa nova de mim- que não moro mais ali e “que bom!” não reconhecer mais ali como casa possível pra mim! Levantei e aplaudi muito feliz as pessoas que já amei, que já questionei e duvidei, que já senti falta e estranhamento.
Um ciclo importante se fechou nessa noite de chuva boa. Entendi e acolhi uma parte da minha história. Desapeguei do que já foi meu e do que nunca foi também.
Senti um calor alegre no coração, “boa noite” e fui embora.
Saravá! Adeus, a deus!

domingo, 4 de dezembro de 2011

Nuvem


O domingo amanhece fresco e, calminho, o sol vai chegando.
É mesmo manso o dia por fora de mim, mas dentro...
As crianças não estão e o silêncio da casa aperta meu coração numa saudade chorada baixinho.
Não passo a tarde só, mas quase temo a liberdade quando o que queria mesmo era ficar esparramada entre os pequenos, seus olhares, suas vozes, suas mãos, seus beijos.
Tranquilo mesmo o dia se anuncia, mas dentro o vulcão vai subir.
Sabendo com o profundo do meu chão que não posso ir à festa de aniversário daquele amor infinito; querendo tanto não misturar minhas escolhas com o bom caminho do teatro que verei hoje à noite; intuindo o coração bem na beirinha de um abismo severo como criança que experimenta inocente um veneno letal.
A vida pesa às vezes disfarçada de alegria solar.
Nuvem que atravessa céu azul, traz a sombra com vento gelado, mesmo o sol ali presente astro potente.
Nuvem vem por dentro, vem com sopro de Iansã porque hoje é seu dia e ela vai gritar.
Não adianta correr que a guerreira grita por dentro e abalada tudo, rouba suas pernas e lhe faz ver o chão com seus minérios expostos feito chagas.
Não é de mar que escrevo hoje, mas de quando a concentração do sal aumenta de mais e a pele resseca, o olho arde e a boca cala.
O sal do inevitável, da escolha feita por falta de opção, da música que intenciona mas não consegue embalar, da calma que bagunça, do caos de não se saber.
Da impressão que ela, a vida, ainda não é minha totalmente.
E ainda assim, Iansã releva na fúria de seus raios que não se volta atrás a partir daqui. Revela que há sentido de vida no passo dado com firmeza e integridade. E que o aprendizado não se esgotou e não se esgotará_ ainda há muito o que trilhar. A preguiça, hoje, desconheço.
Mesmo ruindo por dentro, não estremeço nem por um segundo. Olho firme e sigo.
Quando a folga acabar, terei o conforto da rotina com meus amores mais profundos e que não me deixam cair.
A nuvem sempre passa. Meu céu abre. Eu aquieto, ainda muito quente, e continuo.



domingo, 27 de novembro de 2011

Rede de nós


É bom dar um tempo. Essa pausa para olhar as meninas e curtir um samba, tipo praia.
Da correria se escapa em poesia e o que vai por dentro e a faz brotar não precisa mesmo ser compreendido pelo leitor.
Engraçado saber que até quem já te conheceu bem, hoje te lê e nada sabe.
Louco pensar que há pouco alguém te lia no desejo de te conhecer mais e mais e de repente não lê mais, porque parou de desejar.
Acalma saber que a vida corre em ciclos, por mais chavão que seja – e é, mas fazer o quê? Vive-se assim e boa.
As histórias variadas se parecem tanto, personagens que assumimos de eus tão iguais. A vida é mesmo teatro_ e que desejo de público... Fazer dos sentimentos personagem de um reality, fazer dos pensamentos objeto de enquetes.
Privacidade mesmo é o sono profundo daquilo que não revelamos nem para nós mesmos.
Agora mesmo, quando já não sou tão antiga e prefiro dormir pouco a perder a música severina, sinto o amor por amar_ esse amar é múltiplo, cheio de cores e sons, uns bem novos, outros muito perenes, mas todos cabendo bem.
A própria história e as tantas outras que assistimos e esbarramos.
Quanto menos eu, mais nós. Quanto mais nós, mais eu.
Rede de histórias a crescer humanidade.
Se não tenho nós, não escapo e naufrago.
Mesmo sendo tão marítima, hoje prefiro voar.


domingo, 20 de novembro de 2011

Severino


De repente e de novo.
É de calmaria que passa o dia. Chega a noite, quente que vem, a cidade muda a gente, dormimos aos saltos. Voo de pássaros sem asas. Primeiro vem a visão, só depois a ciência do que é (ou acha que é).

A quentura começa na face que se entrega pedinte. E se espalha por todo corpo quando vai deixando de ser um só.



Agora, já o medo desse desejo Severino.


segunda-feira, 17 de outubro de 2011

manutenção II


Mora na cidade e não vê a hora de ir pro Mar
Não penteia o cabelo na tentativa de vê-lo enrolar
Bom mesmo é estar só e dividir essa felicidadezinha com você
Para relaxar do tenso do dia Yoga de suar e tremer os músculos
Nem vi o bebezinho que nasceu e já o amo como meu_ como o pai é meu, como a tia e sua filha são minhas
Todos os grandes desafios para abrir o mundo para os pequenos
Os pequenos são o maior desafio do mundo – a mãe à prova full time e full time de amor de existência
Quando o encaixe rola – finalmente, depois de intensa batalha – ainda falta alguma coisa... esperar ainda?...
_E mesmo assim é todo preenchimento do ser: a completude de reconhecer-se ora pleno, ora querendo encostar um pouquinho
Pensar o problema é sempre mais penoso que tratar dele
De repente (mas não tão de repente) a vida revela-se mesmo muito mais simples
Somos mesmo possibilidades num universo em expansão
O que havia no espaço ocupado agora pela atual expansão?
_nada. Diz o cientista.
E ‘nada’ existe?






terça-feira, 4 de outubro de 2011

esse clima


Os olhinhos caídos:
_é resfriado? ai esse clima nosso...
_não. ressaca mesmo.
Bebe muito, não? Toda vez que passo um pouco além_
Assuntos numéricos, tenta seriedade de horário comercial.
Voa pra relaxar, mas prefere ir só.
Cada pessoa tem seu lugar. Se venta demais pode ser perigoso... a iminência do descontrole dos comandos e esse nosso clima vira mesmo.


A flor no cabelo vem com sorriso que convida sem pudor:
_vem mundo, vem mundo... – treino
_pode me chamar de mundo! – insiste
Música pra relaxar, também é trabalho, também é voo de vida a ganhar maturidade.
Desviante, penso no convite para sexta à noite:
_Esse clima nosso, se vira?
_Vira mesmo, mas seguro! Nasci no terreiro!
Seguro. Se esfriar não vou. Se for, não bebo e seguro.

Na cidade ilhada entre floresta e rio tem festa.
A festa é presente de aniversário com seus ‘parabéns’ de lá e cá.
Lua cheia longe daqui é cheia pra valer.
_Já pensou nós dois na praia agora?
_Vamos sair daqui.
Esse nosso clima não muda. Vira de estrada em vida, mas mudar... não.
Cada música tem seu lugar. As nossas são palavras em cartas vagas, esparsas e que brotam sempre do chão.
_O chão do sentimento...
_Esse bem escuro e profundo da alma.
Sempre essa vontade que não muda.

Aqui: mais cuidado. Saltar sem precaução e esse clima nosso que vira de vez.
Sol pleno de calmaria:
_Não sou muito da areia escaldante.
_Ah... eu sou... areia.
A cena de cinema provocou tanto que revelei mesmo o clima sem disfarce.
Não abriu o pára-quedas e deixou voar.
_Meu gato aprovou, mas merece castigo.
_Sua sorte é ter, além do gato, amiga em casa.
O vinho e a Nina já autorizavam um esqueta desse nosso clima.
_Quero sim!
E seguro o castigo.

Como será que as pessoas dividem o mesmo elevador nas cidades onde não se tem as 4 estações num dia só? Quando não se fala do clima, fica esse...


domingo, 2 de outubro de 2011

para primavera


Não foi durante o treinamento de voz que dei há mais de dez anos atrás para seu grupo de teatro que reconhecemos nosso triângulo amoroso, mas um pouco depois no grupo mulheres que se encontravam para beber e contar bobagens em intervalos longos de muito trabalho de militância política.
Militávamos por políticas públicas para a cultura da nossa cidade e trabalhávamos muito por uma lei de subsídio a grupos estáveis de teatro em São Paulo.
Em uma dessas noites de longa bebedeira, entre um bar e outro, Bárbara lembrou “ela era a namorada e eu era a amante”. Ríamos muito e sabíamos que era bem melhor ser amante à oficial!
O ano devia ser 1993 e, apesar de negar, os meninos de Águas da Prata – cidadezinha do interior, já quase Minas, onde passava férias com a família - me encantavam. Era impossível escolher um para namorar, bom seria juntar o violão de um, as pernas de outro, o humor de um terceiro e a gentileza do mais velho... Ai! Suspirava nos meus quinze anos.
Alice, não. Alice, aos dezesseis, tem a vida cheia de muitos interesses além de namorados. Ótima aluna, viaja muito com e sem os pais, fala inglês e aprende francês, e toca baixo. Toca muito bem na banda da escola de música. Banda só de meninas, para orgulho da tia feminista!
Alice gostou da música que mandei para ela. Da nova safra de cantoras brasileiras, groove pesado e dançante e uma linha de baixo bem funkeada, a letra é da alegria da primavera, simples e toda poesia.
Francisco, meu mais velho, também gostou da música. Mas preferiu o disco dos Paralamas que ouviu no aniversário do amigo na última sexta feira.
Domingo em casa com as crianças é pra ter muita música e muita dança!
Assim que ouvi a voz do Hebert viajei para Águas da Prata, para os braços do namorado de um único beijo (e na verdade, eu era a amante...) e reconheci sem surpresa uma alegria descompromissada e solta da adolescência no meu corpo de trinta e três anos.
Tantas coisas que não mudam ao longo da vida: Steve Wonder será sempre meu preferido. Gordo, mesmo depois do acidente, será sempre meu namorado de um beijo só. Alice será sempre uma alegria de amor pela vida da minha irmã. Meu coração será sempre muito infinito nessa coisa de amar- só cresce, é desmedido e por isso fica cada vez mais forte!
Hoje, ouvindo depois de muito tempo as músicas tão presentes nos meus quinze anos, não pensava em namorados, mas rodava com Helena na cozinha. Suas gargalhadas são espelho da simplicidade da vida, dos sentidos puros e fui toda na sua dança.
Nesse início de primavera reconheço o fim do inverno em mim! O alívio é...
...e nem preciso contar, porque está tudo cabendo. A chuva cabe bem à noite, o vento cabe bem ao calor do meio dia. A terra, a cola, o jornal, a voz das crianças, cabem muito ao nosso domingo de piñatas. Os sonhos nos cabem sempre. A espera tem hora para acabar. As lembranças cabem nas releituras do estado atual, às vezes até para mostrar o que somos de verdade.




domingo, 25 de setembro de 2011

manutenção I


a natureza ri 
da cultura 

domingo, 18 de setembro de 2011

Pescador


Pescador de corpo sempre úmido.
Peixe vivo, brilhante, vigoroso.
A força da vida bem natural, grudada no corpo firme.
Meus músculos são de rasgar a pele.
Brilho como o sol no mar.
Brilho como espuma na areia.
Não há questão de morte, já que ela – a morte – é viva em mim.
No corpo bruto, toda a morte.
















Longe do mar, regrido um pouco à noite.
Fiquei bem à espreita da noite, enganando o dia pra ver se ralentava.
Nada. Ela veio mesmo implacável com todo o seu silêncio de alma.
Toda a bagunça atrasou o sono, criou preguiça invencível e prostrou em mim.
Minha casa fica longe do mar e não sou pescador.
A pele deixa de reluzir vida e morte, nada de natureza aqui.
Nem o deus, nem o som, nem o vento.
Só o frio e o calor que se alternam e fecham cada porta e janela.
Um passo atrás. Um passo em falso. Um desengano de mim.
Respirar é muito seco. Há falta de maresia.
Onde foi que me perdi desde tão sempre?
Onde foi que larguei o peixe brilhante que pendurava no peito?
Vem minha hora de afogamento! Água e sal pra dentro.
Urgente, mar! Pescador não pode secar.


quinta-feira, 15 de setembro de 2011

acalanto


mãos em prece = acalentando o coração
oração que aquiete essa breve e sincera lágrima de saudade
i wish your door to be open soon
se eu puder espiar pela fresta, não vou olhar
se puder mesmo chegar mais perto, vou preferir ouvir
quero sentir aquele pequeno terremoto de alegria
quando do seu peito vem um oi ultra terno
som onde escuto seu peito apaziguado
som que percebo minha pele a esquentar

sabia que seria de dor essa distância
mas o tempo parece estar brincando comigo
no lugar de acalmar e passar
as vontades só aumentam
e uma doçura cresce em mim
e minhas mãos anseiam em te pegar

salvação é saber que tudo é percurso
mesmo quando não é certo estar viva
medo é de não encontrar a porta aberta jamais
ainda assim será percurso – um outro,
mas tão digno quanto

ainda bem que não temo a dor
- difícil mesmo é caber
.no amor

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Próximo mergulho


Carrego comigo para todo canto. Devoro-o. E releio muito.
Cada palavra, cada frase enchem de sentido minha intenção de ser.
Vejo tão claro eu e você na mesma personagem, em busca, olhar atento para dentro, incomodados, em busca.
Não é nada além de uma doçura de sentimento, um calor no peito, um sorriso que escapa denunciando a lembrança, a memória da pele.
É também uma frustração de ainda não ter conseguido viver. Simplesmente viver. Como se a vida não coubesse no corpo – e não sei se está larga demais ou apertada demais. Sei que não cabe bem, não se ajusta.
Aí toda essa identificação com a história que leio tanto e fico desejando te dar uns trechos ao pé do ouvido. A história de quem caminha arduamente em direção à vida.
Porque esse caminho é assim árduo, difícil demais, doloroso. Porque perguntamos sobre nós mesmos? Tanto que desejo ser simples e breve...

Outro dia, assim como a personagem do livro, enchi a alma de coragem fui para o mar. Era um sol de brilho manso e o vento inibia coragem para água fria. Deitei sobre a areia, bem espalhada e, ouvindo a vida dos outros, esperei.
Primeiro lento depois rápido o céu foi escurecendo. O vento intensificava e trazia um movimento crespo para a mansidão. De novo aquele contraste de cinza e verde claro, ainda brilho de resto de sol – porque é essa foto que revela meu altar: o mar agitado na iminência da tempestade e eu sou aquele barquinho minúsculo quase no horizonte à espera de ser passivamente tragado.
Então só naquele momento, quando já não havia mais resquício de sol ou calor e quando todas as pessoas saiam apressadas da água, meu corpo acordou ligeiro e num susto correu em direção ao mar.
Ah meu mar... Ah esse meu lugar de ser tão peixe, tão minério, tão criança. Esse lugar de sorrir ao nada, de arder, de imergir. Mar lugar de brincar de ser eu. É como se toda força do corpo se renovasse ali na água e sal e areia e vento e horizonte. É como se só ali, imersa, aquática, corpo encontrasse olhos e encontrasse alma e encontrasse cabelo e encontrasse o presente e tudo se completasse – tudo em unidade plena de existência – e isso é então a vida possível.
E agora, assim longe, seca, fico tentando segurar cada grão daquela areia em minhas mãos. Mesmo se só ficar um grão, ainda sim, alguma memória de que estou viva restará.
E poderei permanecer na beira, sem tombar, até o próximo mergulho.


domingo, 11 de setembro de 2011

Para ler


Querido náufrago,

ontem pensei muito em você. Talvez saudades, talvez o vento frio apesar do sol.
Combinei com a gente que não procuraria. Não procuro concretamente.
Mas é preciso contar algumas coisas muito importantes!
Este livro que vem me acompanhando desde então, contém um processo onde devemos nos espelhar, pois as semelhanças são de vida, como em toda poesia.
Todos aqueles que escrevem transformam sua própria existência em matéria coletiva. Será para isso que serve a arte? (você, que faz tanto rir, chora pingado por dentro. chora?)
Bem, há coisas que devem mesmo ser compartilhadas. Outras não.
Este livro fala tanto que desejo mesmo te contar e usar algumas palavras não minhas, como se eu fosse pássara de saia de penas verdes. Como se eu fosse eu.
Aí vão:

A vida não é de se brincar porque em pleno dia se morre.

Mas há um momento em que do corpo descansado se ergue o espírito atento, e da Terra e da Lua. Então ele, o silêncio, aparece. E o coração bate ao reconhecê-lo: pois ele é o de dentro da gente.

O coração tem que se apresentar diante do Nada sozinho e sozinho bater em silêncio de uma taquicardia nas trevas. Só se sente nos ouvidos o próprio coração. Quando este se apresenta todo nu, nem é comunicação, é submissão. Pois nós não fomos feitos senão para o pequeno silêncio, não para o silêncio astral.

O que acontecia na verdade com Lóri é que, por alguma decisão tão profunda que os motivos lhe escapavam – ela havia por medo cortado a dor. Só com Ulisses viera aprender que não se podia cortar a dor – senão se sofreria o tempo todo. E ela havia cortado sem querer ter outra coisa que em si substituísse a visão das coisas através da dor de existir, como antes. Sem a dor, ficar sem nada, perdida no seu próprio mundo e no alheio sem forma de contato.

Como toda ficção se traveste de verdade (não é assim?), se eu fosse brisa ou pássara, se você fosse alguém que se prepara e me espera, escreveria este mesmo bilhete que li no livro:

Existe um ser que mora dentro de mim como se fosse a casa dele, e é. Trata-se de um cavalo preto e lustroso que apesar de inteiramente selvagem – pois nunca morou antes em ninguém nem jamais lhe puseram rédeas nem sela – apesar de inteiramente selvagem tem por isso mesmo uma doçura primeira de quem não tem medo: come às vezes na minha mão. Seu focinho é úmido e fresco. Eu beijo seu focinho. Quando eu morrer, o cavalo preto ficará sem casa e vai sofrer muito. A menos que ele escolha outra casa e que esta outra casa não tenha medo daquilo que é ao mesmo tempo selvagem e suave. Aviso que ele não tem nome: basta chamá-lo e se acerta com seu nome. Ou não se acerta, mas, uma vez chamando com doçura e autoridade, ele vai. Se ele fareja e sente que um corpo-casa é livre, ele trota sem ruídos e vai. Aviso também que não se deve temer o seu relinchar: a gente se engana e pensa que é a gente mesma que está relinchando de prazer ou de cólera, a gente se assusta com o excesso de doçura do que é isto pela primeira vez.



Sim, claro que é Clarice... O livro que releio muito acertadamente cheia de motivos intrínsecos aos dias que foram e aos que virão chama-se Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres. Meu amor por Lispector nasceu em Luanda e ainda esquenta muito.


A baleia






















A baleia é um animal enorme. É mamífera. É marítima.
Um corpo todo tão grande, todo ele couro rijo escorregadio e pulso latente.
Sua existência encerra em si o milagre da infinitude do oceano. Pois é ele sua morada, espaço selvagem para nadar livremente para a vida e para a morte.

Toda vez que você encontrar uma baleia em seus caminhos oceânicos, saiba que a vida está querendo muito te encontrar. Mas não se vê baleias na praia, nem se nadarmos rumo ao horizonte. É preciso pegar mesmo o barco, navegar bem longe, ultrapassar a borda do mar e aí sim: esperar com o coração em maresia.

A maresia é uma sensação, quase não existe verdadeiramente, pois só se sabe dela quando a própria mão toca a própria pele e o olfato confirma essa sorte. A maresia sou eu olhando o mar e seus animais.

Os animais existem para dar humanidade aos seres que pretendem ser humanos. Eles mostram sem querer que a vida vai muito além de sofrimento. Mostram que é preciso saber mesmo sentir cada dor. Mas sentir não é pensar, nem muito menos interpretar.

A baleia não interpreta o sal em seu couro vivo. Ela aceita, recebe com abertura, assim como as conchas aceitam as pérolas que vêm por dentro. A árvore com galhos e folhas aceita o vento. O vento aceita os obstáculos.

Obstáculo é um anteparo que não serve para bloquear, que não serve para paralisar, que não serve para inibir, nem desistir. Obstáculo é o tempero da existência natural. A vida sem obstáculo é a morte.

A morte é o descanso merecido após vividos tantos obstáculos. Quando se aceita cada obstáculo, reconhece-o, trabalha-se nele e com ele, ama-o e ultrapássaro, morre-se bem cansado. Isso deve ser felicidade.

Tenho em minhas mãos de maresia uma concha bem fechada que guarda secretamente uma pérola negra. A pérola está totalmente bruta e virgem. E com ela mora todo o prazer de morar no mais profundo mar.
Meu obstáculo ao gozo de vida é a concha. Apenas isso.


Esquecida em sofrimentos ancestrais que não vão se explicar,
nego embate com a concha.
Assim, ela vence e fica toda com a pérola.

Espero.

O vento deve dissolver tudo, até o que não se explica.
Quando a concha for, finalmente, areia e voar, a pérola negra bruta e virgem será minha


quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Areia nobody


Com areia bem sequinha construí um lindo castelo!
Todo ele era ideia.
Olhava às cegas cada nenhuma pessoa que lá habitava.
Eram vários tipos de habitantes, bem invisíveis, mudos e presentes.
Nós conversámos todo o tempo assuntos vazios de argumentos, mas cheios de exclamações. Falávamos nada ao mesmo tempo, voz sobre voz.
Que diversão aquela da areia fina ao vento...
A água era mesmo rara por ali, por isso todos não bebiam, apenas suavam sede e desejos indisíveis de existência.
Meu castelo ficava em praia de mar vazio, todo ele bem sequinho, igual às gotas de palavras minhas.
Dia qualquer, abrindo em vão o portal secreto do castelo, dei de costas com linha aleatória.
Porque não seguir, se tudo o que eu fazia ali era esperar a tal linha que nunca soube existir?
Meus dedos de giz seguraram firmes a linha e apertaram até se desfazerem em pó de cal.
Assim comecei o trajeto rumo certo ao desconhecido.

 
Era como um sonho de realiadade. A linha transparente de levar a lugar nenhum.
Segui sabida de opção.
Saímos da praia, abrimos trilha na floresta tropical, chegamos no pé da montanha e nos aventuramos por todo seu corpão de chão em inclinação oblíqua, vencemos o topo do infinito, descemos rumo à rua de asfalto, deixamos pés por ali, uma calçada depois outra e mais outra, entramos casa, prédio, obra, barraco, viaduto, chão – tudo quanto é moradia de homem e mulher -
visitamos museu, cinema, teatro e música – tudo quanto é moradia de ar e matéria de homem e mulher -
comemos bem e mal, lavamos mãos e pés e tudo o mais, soltamos o cabelo (eu cabelo, a linha já era solta em linha mesmo), visitamos quarto de sono, de prazer, de dor, de sangue, de apneia, de insônia – tudo quanto é jeito de quarto de homem e mulher e criança.
Até que chegamos lá!
Assim se falava quando alguém vencia o jogo nenhum: chegou lá!
Mui respeitosamente ajoelhei-me sem rebeldia aos pés do rei.
Mantendo o silêncio habitual de voz seca, devolvi-lhe a linha toda que recolhi pelo caminho.
Era transparante, mas enxergávamos bem, o rei e eu.
Amarrou bem firme o ponto que soltara de sua roupa e que deixara escapar aquele tanto invisível de linha até meu castelo.
Quer dizer que mora em castelo também, perguntou o rei sabido.
Sim, pois não, senhor realeza, respondi bem letrada em tratamentos oficiais.
Serás tu alguma rainha destronada?, outra pergunta que estabeleceu, por pura existência, um princípio de diálogo entre nada e ninguém.
Não, sinto dizer-lhe, ó ilustríssimo referência, não há rainha possível em areia seca que não a água inexistente, mais uma vez e ainda melhor repondi-lhe.
Morando em castelo, mesmo que de praia, deves tu ter algum tipo de nobreza... Investigou consigo mesmo. Claro!, concluiu, és princesa esperante!
Aí já sim seria possível!, descobri. O senhor realeza de ilustração é sábio mesmo!, comprovei com resto de linha alguma na mão. Tenho esperado uma vida!
Gostaste muitíssimo da minha roupa nova?, inquiriu.
Certamente que sim, pois da sua linha saí do meu castelo a aventurar-me por lugar nenhum e sinto-me apropriada para gostar das coisas e admirá-las pelo que deveriam ser!, acertei bem.
Pois então saibas que és tu uma coisa de sorte! Abriste a consciência para a auto cegueira e isto é raro! Só as pessoas vencedoras podem mirar-se com tamanha compaixão ignorante! A espera é nunca alcança e a alegria de chegar lá é eufórica e destrambelhada. Nada sabe que não seja erros em sucessão. Olhas para trás, vento levou. Olhas para frente, nada para ser preenchido. Vives num presente de sonho esquecido ao despertar.
Podes casar-se comigo e seremos fieis ao sol que seca sua areia!
Moraremos ambos em lindos castelos!
Todos os povos serão como nós, espelhos em vácuo de imagens!
Viva coisa alguma!
Recebas tua capa real de tecido especial real para vertir nobrezas sábias de valores reais.
Chegar lá é coisa para secos de caminhos.
A roupa de tecido mágico é a pura tentação da vista do vazio.


I’m Nobody! Who are you?
Are you — Nobody — Too?
Then there’s a pair of us?
Don’t tell! They’d advertise — you know!

How dreary — to be — Somebody!
How public — like a Frog —
To tell one’s name — the livelong June —
To an admiring Bog!

(Emily Dickinson)

terça-feira, 23 de agosto de 2011

pássara


Há uma espécie de mandioca que se transforma em açúcar.

A música se transforma em ideia.
O homem se transforma em palavra.
Minha humanidade se transforma em bicho.
O grafite se transforma em história
e a mata se transforma em tecnologia.
A máquina se transforma em monstro
e o conhecimento se transforma em morte.
O olhar se transforma em arte.
O artista se transforma.
O arroz se transforma em bolinho,
o queijo se transforma em receitas muitas
e o vinho se transforma em mito.
O teatro se transforma em teatro que nos transforma (ou não).
A diversão se transforma em vício.
O vício não se transforma.
Um casal, mesmo que eventual, se transforma em criança.
A criança se transforma infinitamente.
A mente se transforma em algoz.
E a pata do urso que fazia um carinho todo delicado na pássara de asa quebrada se transforma em garra de leão.
A alegria se transforma em dor.
O amor se transforma em solidão.
A dor demora e se transforma em força.
O limite se transforma em força.
A solidão se transforma em força.
O medo se transforma em força.
Cada uma das lágrimas choradas pra valer se transformam em flor de sal em rosto de vida pequena, mas aberta.
A pouca fé se transforma em ação cotidiana inevitável – em frente!
A asa quebrada da pássara se transforma em braço para acolhida.
A asa boa da pássara se transforma em planador.

Saber-se em mutação é poder seguir.
Saber-se apenas, não é.

sábado, 20 de agosto de 2011

Cidade Submersa


Esticou bem primeiro, depois rolou toda por cima da seda.
Todo o ambiente perfumou.
O mato crescia. E crescia mais ainda em noites de chuva.
Puxava muito e voava.
Lá de cima encontrou a cidade submersa.
Fazia tempo areia havia coberto tudo, menos a torre da igrejinha de sempre.
Lá, pelo vento mesmo que não cessava, o mar era da cor da areia e puxava também.
Ficava sobre as dunas, mirava bem reto o horizonte e imaginava muito. Era verão e todas as histórias moravam sob seus pés.
Quando vinha a noite, cabia tranquilamente entre areia e estrelas e sonhava com coisas que crianças aprendem a sonhar.
Foi crescendo com a vida. Foi perdendo a leveza de criança que sabe sonhar. Foi abrindo mais os braços e tocando coisas reais. Foi aprendendo a andar, a correr, a pousar. E não deixou de voar. Carregava aquelas histórias por dentro.


Encontrou, em outra puxada de criança, nova cidade submersa. -Cidade submersa disfarçada de mar.
Era um lugar bem estranho, cercado. Nenhum sinal de civilização que não fosse a cerca. Mas ecoava, do que ficava por baixo de bruma lisa e macia, sons de delicadeza altamente sedutores – sereia?

 
No limite possível da cerca ficou ouvindo muito aquele canto. Gostou tanto...
Confundiu a bruma com mar, confundiu o pico da montanha com ilha deserta para acolhida. Confundiu as histórias e pensou que era netuno o habitante de mentira que vivia no mar de mentira.
(Essa névoa deixa qualquer um confuso mesmo... Vai ver que puxava demais.)
O contentamento é coisa que vicia. Aquele som que emergia da bruma tocava por dentro e acalmava tudo!
Sempre que podia, chegava na beirinha da cerca e torcia para que ouvisse o canto atravessar a bruma.
Assim foi passando um tempo e depois mais outro até que num pouso forçado viu a cidade de baixo, por dentro, agora coberta por nuvens que, muito longe de serem brumas de sedução, pesavam de chuva que não queria chover e sobrevivia de hesitação.
O que já fora sonho de criança, revelava-se pesadelo de pessoa adulta que não quer crescer. (Amarra. Frustra. Estranha. Desconhece. Escurece. Grita mudo no vazio.)
Fim do canto. Silêncio completo.

O fundo do mar não é preto. É marinho.
O sal é sagrado, sim.
A percepção do sal na pele, na língua, é a oportunidade de gosto da vida.
A vida é lançar-se em mar aberto e bravio.
Emergir é o risco de novo naufrágio.

Quando acordou do pesadelo, sorriu. Olhou no espelho e viu de novo a maresia. Aquela cidade cercada não era a sua cidade marítima. Seus amores moravam no mar e nunca se escondiam sob bruma, e nunca cantavam por vaidade, e nunca limitavam acesso com cerca.
Seus amores moravam no mar e se revelavam em ondas e ciclos, e cantavam muito forte e intenso para os olhos brilharem, e os limites eram respeitados com generosidade mútua e portas sempre abertas.

Mesmo sabendo que o mar e o amor, além de acolhida, também são perdição, não escolheria jamais outro lugar.

 

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Five Pointed Palm Exploding Mind Technique


Tira os óculos calmamente e testa as lentes.
Deixe que funcionem bem de dentro, sem preocupar com o que está para fora.
Ajusta seu foco em mim que vou mergulhar!
São 5 gotas de óleo de Rock Rose of the Desert no centro da palma da mão, entre o músculo diagramador e o osso vertenedor.
Da mão esquerda, claro.
Percebe o cheiro Saara com a abertura lateral e deixa molhar.
A primeira parte vai para o centro bem central da testa que é onde mora o pensamento chato. Bem naquele lugarzinho que franze e incomoda nossa tranquilidade. Deixa descansar ali e imagina que relaxa.
Quando o pensamento estiver embriagado, usa a segunda parte.
Ela vai bem dentro da orelha (não se diz mais ouvido, agora é só orelha mesmo – interna e externa. Nesse caso, é interna). Direita, é claro.
Pinga lá dentro como se fosse curar a otite. Mas não é isso. Vai curar mesmo a desatenção de estar sempre tão cheio de sons furiosos que não dizem nada além dos ruídos da cidade.
Deixa que inunde até ensurdecer e só ouvir o total silêncio que há dentro do nada.
Escutou?
Terceira parte: essa é curva.
No osso do central peitoral, que chama esterno com s mesmo, e que é interno ao meio do corpo, vai a terceira parte.
Ela é muito importante porque reúne em cima e em baixo. Junta tudo bem ali. E por isso merece uma atenção toda carinhosa de acolhida paterna (paterna porque o pai é capaz de acolher sem perguntar o que aconteceu, e abraça com ternura e firmeza apenas).
Quando pingar a terceira parte ali, faz com que o pingo caia em curvas espirais até atingir como flecha o ponto mais alto do osso. Ali, o óleo deve perfurar certeiro a pele e estacionar - em formato de gota mesmo – no centro do osso.
Seu efeito é muito imediato. Você perceberá que todas as suas partes corpóreas e não corpóreas se ajuntam em harmonia perfeita. Sentirá que é um humano cheio de natureza virgem e selvagem.
Segura, que ainda vão mais duas partes.
A quarta, muito óbvio, vai no umbilical. Nem preciso dizer o motivo. A conexão com a ancestralidade é fundamentalmente essencial para o mergulho. Quem não sabe dá onde vem, inventa. Não dá pra errar. O inconsciente coletivo trabalha nesse sentido e nunca falha. (a não ser que sua percepção de realidade contextual esteja altamente prejudicada pelas normas do mercado)
Quinta e última parte. Aquilo que sobrou na palma da sua mão.
Encoste a lateral externa da mão esquerda na lateral externa da mão direita. Assim, unindo e fazendo uma cuia. Lentamente una as duas palmas e deixe-as bem grudadas, pressionando uma sobre a outra. Não vá cair em oração! É preciso estar atento e forte.
A quinta gota se divide entre as duas palmas para lembrar a possibilidade de reunião.
Pronto!
Este é um auto-golpe chamado Five Pointed Palm Exploding Mind Technique, muito usado pelas populações marunvyshnas com o intuito único de fazer o coração pulsar em real alegria, liberto da mente que explodiu!
Funcionando, mantenha o uso das lentes originais e esqueça para sempre os enquadramentos artificiais.
Desde que utilizei o auto-golpe Five Pointed Palm Exploding Mind Technique que moro nesse mar assim bonito.
Aqui sou filha da matriarca estoniana de nome Kavinka. Ela roda muito pela areia e diz histórias sem final.
Sou como uma Amazona cheia de si, de mim, da gente, e nado no fundo do mar sem respirar por 4 horas e 27 minutos. Todas as noites.
Todos os dias tem sol e chuva. Os ciclos são incessantes e exuberantes. Nunca paramos.
Comemos sal do mar. As crianças crescem, mas não perdem jamais a curiosidade de conhecer o mundo.
E o mundo nos reconhece. E nós somos um com o mundo.
Planto aqui a famosa Rock Rose of the Sea. Outra modalidade de Rock Rose, um pouco mais hidratativa que serve para as ideias.
Com ela, estou em pesquisa de um novo óleo curativo para curar doenças inexistentes.
Depois dou a receita.


segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Processo


Os caminhos costumam ser conhecidos.
Um insiste na ficção,
outro não acredita e persiste na intenção de desnudá-la por completo por pura petulância.
Os textos deveriam trazer política relevância,
mas de cotidiano caseiro e privado as palavras saltam tímidas ao papel e não se enganam.
Há sempre uma desordem fruto do processo.- o café adoçado com flores, o sal guardado na gaveta, o rio negro querendo fazer-se cristalino em olhos transparentes de saudades, atriz saltando às pressas em possibilidades numéricas, horizontes novos para serem esboçados de vida que se inicia depois.
Quem era conhecido há anos, há intensidades brutas de vida e de morte, apresenta-se  em novidades vazias, distantes.
Há um maremoto no olhar
e o cinza pesado das nuvens traz a certeza de que o ciclo estacionou na turbulência.
Diz-se que tudo é processo e se ajeita,
mas quem vê caminho possível imerso em escuridão?
Inda mais quando o que já foi percorrido não esboça sentido algum.
Nem o desejo confiante lançado às estrelas,
nem a escrita precisa e atenta,
nem a coragem de sorrir num otimismo,
nada segura um corpo que se move no vazio.
É como morrer da própria história e nascer-se de novo.
A diferença do nascimento primeiro é que lá era possível sim viver processo-
agora não.
Quando se nasce da segunda, terceira ou quarta vez, é preciso sacar do fundo das entranhas um sentido novo que reverbere no ambiente imediatamente,
fazendo luz
dando-se à luz
libertando-se para a luz
de se formar em novo eu.

Simulacro-
corpo ágil dobras flexíveis músculos tonificados em pele brilhosa. os movimentos dançam em perfeita harmonia com o vácuo bem branco que envolve personalidade de talvez se ser algo que signifique.
signo vazio.
o corpo segue na dança em cegueira branca de saramago, carrega aquelas palavras em gestos precisos, quase belos, e que não dizem absolutamente nada.
a beleza é bela por si só e mais nada.
o impulso é de geração espontânea
nada por dentro que sinalize caminho de densidade.
o gesto dança e acaba e quando acaba não sobrou nada.
o passo afunda a areia e quando o pé volta a flutuar não se vê nenhum resquício de peso real que no segundo anterior escrevia ali a sua vida.
o corpo percebe que é e não é
e essa auto-dúvida faz com que a brancura impeça qualquer possibilidade de visão adiante.
nada atrás, nada a frente.
-Fim.

Quando não se acredita que isso é de fato um processo que dará em algum mar possível,
si len ci a – se