quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

natal



Não sou católica, espírita, budista, umbandista, nem coisa que o valha.
Minha mãe costuma dizer que sou à toa.
Mas, quando da escuridão e o medo, construo a imagem de Iemanjá na beira da praia e rezo pela força e sal do mar inundando meu ser. Que se ilumine, por favor!
O choro sério e dolorido das crianças provoca o desejo de ser acolhida por essa entidade que invento e cultuo. Sim, rezo. Rezo para me organizar e pensar melhor.
Então fiquei pensando nesse natal. Sempre avalio que é momento de celebrar o renascimento. O meu mesmo. Sim, pois há coisa que não acaba mais em mim que deve morrer, há ciclos que devem ser cumpridos e há também o que merece renascer – crescido, fortalecido e iluminado de minha própria vida.
Mas renascer solitária parece não fazer muito sentido... Por isso gosto da reunião, da união das pessoas mais próximas, as que acompanham pacientes meus renascimentos e me brindam generosas com os seus.
Família é isso então.
A reunião de pessoas que trocam ou compartilham mortes e vidas.
Durante a gravidez da minha menina aprendi com minha mãe Luiza que é possível relevar. Que é possível haver harmonia mesmo entre partes bem diferentes. Ainda não sou muito boa nessa coisa de observar sem julgar, mas estou tentando. E talvez seja isso mesmo que eu queira celebrar nesse natal.
Que o ruim da diferença que me ameaça morra, para que o bom da diferença que amplia minha visão de mundo nasça em seu lugar.
Quero aumentar o espectro, quero ver todos os tons e enxergar os semi tons, quero me perder nas entrelinhas para descobrir diversidade de sentidos e significados.
E quero as pessoas queridas perto de mim, para que minha trajetória faça sentido desde esse pequeno universo que é a família.
Quero morrer com as amarras e hipocrisias que o conceito burguês de família carrega e nascer com a família tribo, grupo que se escolhe viver. E quando percebo que gosto de viver com as pessoas da família, fico feliz e forte para fazer meu renascimento de natal.
No dia 25 de dezembro terá almoço de natal na minha casa. Quem cozinha é meu companheiro. Eu fico em volta, cuido das crianças, sinto o apetite aumentar ao cheiro de seus temperos. Ele gosta de usar cominho. Eu gosto que ele goste. Eu gosto também da voz de Francisco por cada canto da casa, é mesmo uma música que vale muito ser ouvida. Agora também já vou gostando de ver o sorriso fácil de Helena.
A família até que pode ser assim. Um sorriso fácil e o desejo de estar junto.