segunda-feira, 17 de outubro de 2011

manutenção II


Mora na cidade e não vê a hora de ir pro Mar
Não penteia o cabelo na tentativa de vê-lo enrolar
Bom mesmo é estar só e dividir essa felicidadezinha com você
Para relaxar do tenso do dia Yoga de suar e tremer os músculos
Nem vi o bebezinho que nasceu e já o amo como meu_ como o pai é meu, como a tia e sua filha são minhas
Todos os grandes desafios para abrir o mundo para os pequenos
Os pequenos são o maior desafio do mundo – a mãe à prova full time e full time de amor de existência
Quando o encaixe rola – finalmente, depois de intensa batalha – ainda falta alguma coisa... esperar ainda?...
_E mesmo assim é todo preenchimento do ser: a completude de reconhecer-se ora pleno, ora querendo encostar um pouquinho
Pensar o problema é sempre mais penoso que tratar dele
De repente (mas não tão de repente) a vida revela-se mesmo muito mais simples
Somos mesmo possibilidades num universo em expansão
O que havia no espaço ocupado agora pela atual expansão?
_nada. Diz o cientista.
E ‘nada’ existe?






terça-feira, 4 de outubro de 2011

esse clima


Os olhinhos caídos:
_é resfriado? ai esse clima nosso...
_não. ressaca mesmo.
Bebe muito, não? Toda vez que passo um pouco além_
Assuntos numéricos, tenta seriedade de horário comercial.
Voa pra relaxar, mas prefere ir só.
Cada pessoa tem seu lugar. Se venta demais pode ser perigoso... a iminência do descontrole dos comandos e esse nosso clima vira mesmo.


A flor no cabelo vem com sorriso que convida sem pudor:
_vem mundo, vem mundo... – treino
_pode me chamar de mundo! – insiste
Música pra relaxar, também é trabalho, também é voo de vida a ganhar maturidade.
Desviante, penso no convite para sexta à noite:
_Esse clima nosso, se vira?
_Vira mesmo, mas seguro! Nasci no terreiro!
Seguro. Se esfriar não vou. Se for, não bebo e seguro.

Na cidade ilhada entre floresta e rio tem festa.
A festa é presente de aniversário com seus ‘parabéns’ de lá e cá.
Lua cheia longe daqui é cheia pra valer.
_Já pensou nós dois na praia agora?
_Vamos sair daqui.
Esse nosso clima não muda. Vira de estrada em vida, mas mudar... não.
Cada música tem seu lugar. As nossas são palavras em cartas vagas, esparsas e que brotam sempre do chão.
_O chão do sentimento...
_Esse bem escuro e profundo da alma.
Sempre essa vontade que não muda.

Aqui: mais cuidado. Saltar sem precaução e esse clima nosso que vira de vez.
Sol pleno de calmaria:
_Não sou muito da areia escaldante.
_Ah... eu sou... areia.
A cena de cinema provocou tanto que revelei mesmo o clima sem disfarce.
Não abriu o pára-quedas e deixou voar.
_Meu gato aprovou, mas merece castigo.
_Sua sorte é ter, além do gato, amiga em casa.
O vinho e a Nina já autorizavam um esqueta desse nosso clima.
_Quero sim!
E seguro o castigo.

Como será que as pessoas dividem o mesmo elevador nas cidades onde não se tem as 4 estações num dia só? Quando não se fala do clima, fica esse...


domingo, 2 de outubro de 2011

para primavera


Não foi durante o treinamento de voz que dei há mais de dez anos atrás para seu grupo de teatro que reconhecemos nosso triângulo amoroso, mas um pouco depois no grupo mulheres que se encontravam para beber e contar bobagens em intervalos longos de muito trabalho de militância política.
Militávamos por políticas públicas para a cultura da nossa cidade e trabalhávamos muito por uma lei de subsídio a grupos estáveis de teatro em São Paulo.
Em uma dessas noites de longa bebedeira, entre um bar e outro, Bárbara lembrou “ela era a namorada e eu era a amante”. Ríamos muito e sabíamos que era bem melhor ser amante à oficial!
O ano devia ser 1993 e, apesar de negar, os meninos de Águas da Prata – cidadezinha do interior, já quase Minas, onde passava férias com a família - me encantavam. Era impossível escolher um para namorar, bom seria juntar o violão de um, as pernas de outro, o humor de um terceiro e a gentileza do mais velho... Ai! Suspirava nos meus quinze anos.
Alice, não. Alice, aos dezesseis, tem a vida cheia de muitos interesses além de namorados. Ótima aluna, viaja muito com e sem os pais, fala inglês e aprende francês, e toca baixo. Toca muito bem na banda da escola de música. Banda só de meninas, para orgulho da tia feminista!
Alice gostou da música que mandei para ela. Da nova safra de cantoras brasileiras, groove pesado e dançante e uma linha de baixo bem funkeada, a letra é da alegria da primavera, simples e toda poesia.
Francisco, meu mais velho, também gostou da música. Mas preferiu o disco dos Paralamas que ouviu no aniversário do amigo na última sexta feira.
Domingo em casa com as crianças é pra ter muita música e muita dança!
Assim que ouvi a voz do Hebert viajei para Águas da Prata, para os braços do namorado de um único beijo (e na verdade, eu era a amante...) e reconheci sem surpresa uma alegria descompromissada e solta da adolescência no meu corpo de trinta e três anos.
Tantas coisas que não mudam ao longo da vida: Steve Wonder será sempre meu preferido. Gordo, mesmo depois do acidente, será sempre meu namorado de um beijo só. Alice será sempre uma alegria de amor pela vida da minha irmã. Meu coração será sempre muito infinito nessa coisa de amar- só cresce, é desmedido e por isso fica cada vez mais forte!
Hoje, ouvindo depois de muito tempo as músicas tão presentes nos meus quinze anos, não pensava em namorados, mas rodava com Helena na cozinha. Suas gargalhadas são espelho da simplicidade da vida, dos sentidos puros e fui toda na sua dança.
Nesse início de primavera reconheço o fim do inverno em mim! O alívio é...
...e nem preciso contar, porque está tudo cabendo. A chuva cabe bem à noite, o vento cabe bem ao calor do meio dia. A terra, a cola, o jornal, a voz das crianças, cabem muito ao nosso domingo de piñatas. Os sonhos nos cabem sempre. A espera tem hora para acabar. As lembranças cabem nas releituras do estado atual, às vezes até para mostrar o que somos de verdade.