quarta-feira, 18 de março de 2009

minha personagem (retrato 2)

Estação

Ainda bem cedo, chega pisando cuidadosa, espia o silêncio e se senta.
Bem quieta, observa o comprido da linha margeada de capim e margaridas.
Sorri às flores, suspira e se acomoda.
Nada ainda por ali que não seja o gorjear de um ou outro pássaro mais preguiçoso.
Vez ou outra, uma folha que o vento arrasta a faz pensar que o movimento está próximo.
Fecha os olhos e bem ao longe escuta enfim o tilintar dos trilhos.
Sim, a primeira máquina vem aí. Forte, certeira, carregando os destinos que passam variados.
Sabe que ao parar, gostará do cheiro quente, gostará do frio na espinha, gostará do salgado dos olhos a esperar o fim de tanta espera, gostará da pequena dor nos maxilares que não terminam de sorrir.
E sua pele brilhará à iminência do abraço profundo que afogue longa saudade.
A cidade transformara-se pouco depois da inauguração da rodovia.
Na praça ao lado ainda os gansos no lago, ainda os micos nas gaiolas.
No bosque, ainda as crianças balançando e os homens carregando seus galões de água.
No laticínio, ainda o leite fresco e quente que chega é vendido em galões de um litro.
Mas o cassino fechou, o balneário também.
Turistas quase não vêm.
Inevitável, passam os anos, passam as horas.
Um vento mais forte faz com que a velha porteira de ferro da bilheteria bata como se houvessem passageiros.
Ela abre os olhos num susto.
Olha para trás procurando o bilheteiro.
Será que dormira tanto tempo que o amanhecer já era agora entardecer e perdera, como de costume, tudo que se passou naquele dia de estação, iclusive os passageiros?
Levanta-se levemente, ajeita o chale, segura a bolsa e sai lentamente.
Mais uma vez a mesma sensação... as pernas, no fim do dia, pesam mais.

quinta-feira, 12 de março de 2009

mensagem

Atenção. O rio que andava calmo teve anseios de novo transbordamento.
Navegantes que se assentem.
Pois suas lendas agitam corpo de dança e a agitação pode afogar despreparados.
Pés que se agarrem ao chão, olhos que se abram pra fugir à ilusão.
Que o rio tá seco e já vai tempo.