quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Aimant

Tava tão na sua.
Tendo Sol, tendo variação da visão e de atuação, ia seguindo toda solta na possibilidade de ver você de novo e estar bem dentro do seu sorriso.
Era dia e estava ensaiando como te pegar.
Era noite e acordava sonhando como me pegar.
Já bem perto de rolar, já escolhia passos, sons, penteado e cor.
Já bem mais perto agora, não conseguia mais saber qual era o melhor jeito de trazer pra contexto tão diverso a mesma intimidade – mesmo que tenha sido breve e pública, mesmo que tenha sido nada.
E quando vem a ordem de lançar, escondo todas as cartas e fico bem bagunçada num silêncio que deprime.
Já sou toda só minha agora, como se houvesse um ímã de um pólo só.
Como se, ainda sendo ímã, congelasse o movimento dos meus elétrons.
Gelo de medo. Gelo de cautela.
Se é preciso ter massa para haver campo gravitacional, corrente elétrica para campo elétrico, pra mim, basta música no olhar para campo magnético de dança solar.
Assim vi seus olhos na tarde quente. Assim imergi em possibilidades.
Assim vivi bem feliz toda sua em pensamento.
Assim ri muito de tanta imaginação proibida.
E assim também deixei passar essa noite em silêncio. Sem samba, sem jazz, sem ordenar nossas correntes.
Vamos para as próximas matérias.

Lápis em papel branquinho vai desenhando as curvas que podem ser parábolas, hipérboles, estradas, mares de morros: figuras de linguagem para o mesmo movimento de ser flexível em si mesmo.
Assim os campos, assim as pilhas, assim as palavras ordenadas em coerência e coesão – qualidades que talvez, um dia, eu conheça em meus textos.
Assim também desenha o giz em quadro negro. Cal da sua mão e corpo meu, já trazendo formas de ebulição para desordenar de vez e não perder as propriedades do ímã, que são, na verdade, as propriedades de aimant.
Não é preciso estudar muito – apenas praticar – para conhecer que os dois pólos do ímã estão em mim.
Como as correntes que precisam de faísca. Já elas são todo o sistema complexo de trânsito de energia, mas falta faísca que as acendam: olho todo sorrindo, abraço que demorou mais que..., alguma identificação, alguma simpatia. A faísca é afinidade de corpos, mesmo que breve de um instante, mas pra mim, já muito suficiente. Lá vem raio de Iansã pra bagunçar.
E o trovão ainda não se escuta. Será mais um pouco silêncio. Até que se apague o que resta de cuidado com tudo o que está em volta e venha a iminência do fogo.
Incêndio magnético. Outros ímãs poderão reorganizar. Poderão?