domingo, 18 de setembro de 2011

Pescador


Pescador de corpo sempre úmido.
Peixe vivo, brilhante, vigoroso.
A força da vida bem natural, grudada no corpo firme.
Meus músculos são de rasgar a pele.
Brilho como o sol no mar.
Brilho como espuma na areia.
Não há questão de morte, já que ela – a morte – é viva em mim.
No corpo bruto, toda a morte.
















Longe do mar, regrido um pouco à noite.
Fiquei bem à espreita da noite, enganando o dia pra ver se ralentava.
Nada. Ela veio mesmo implacável com todo o seu silêncio de alma.
Toda a bagunça atrasou o sono, criou preguiça invencível e prostrou em mim.
Minha casa fica longe do mar e não sou pescador.
A pele deixa de reluzir vida e morte, nada de natureza aqui.
Nem o deus, nem o som, nem o vento.
Só o frio e o calor que se alternam e fecham cada porta e janela.
Um passo atrás. Um passo em falso. Um desengano de mim.
Respirar é muito seco. Há falta de maresia.
Onde foi que me perdi desde tão sempre?
Onde foi que larguei o peixe brilhante que pendurava no peito?
Vem minha hora de afogamento! Água e sal pra dentro.
Urgente, mar! Pescador não pode secar.


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