Carrego
comigo para todo canto. Devoro-o. E releio muito.
Cada
palavra, cada frase enchem de sentido minha intenção de ser.
Vejo tão
claro eu e você na mesma personagem, em busca, olhar atento para dentro,
incomodados, em busca.
Não é
nada além de uma doçura de sentimento, um calor no peito, um sorriso que escapa
denunciando a lembrança, a memória da pele.
É também
uma frustração de ainda não ter conseguido viver. Simplesmente viver. Como se a
vida não coubesse no corpo – e não sei se está larga demais ou apertada demais.
Sei que não cabe bem, não se ajusta.
Aí toda
essa identificação com a história que leio tanto e fico desejando te dar uns
trechos ao pé do ouvido. A história de quem caminha arduamente em direção à
vida.
Porque
esse caminho é assim árduo, difícil demais, doloroso. Porque perguntamos sobre
nós mesmos? Tanto que desejo ser simples e breve...
Outro
dia, assim como a personagem do livro, enchi a alma de coragem fui para o mar. Era
um sol de brilho manso e o vento inibia coragem para água fria. Deitei sobre a
areia, bem espalhada e, ouvindo a vida dos outros, esperei.
Primeiro
lento depois rápido o céu foi escurecendo. O vento intensificava e trazia um
movimento crespo para a mansidão. De novo aquele contraste de cinza e verde
claro, ainda brilho de resto de sol – porque é essa foto que revela meu altar:
o mar agitado na iminência da tempestade e eu sou aquele barquinho minúsculo
quase no horizonte à espera de ser passivamente tragado.
Então só
naquele momento, quando já não havia mais resquício de sol ou calor e quando
todas as pessoas saiam apressadas da água, meu corpo acordou ligeiro e num
susto correu em direção ao mar.
Ah meu
mar... Ah esse meu lugar de ser tão peixe, tão minério, tão criança. Esse lugar
de sorrir ao nada, de arder, de imergir. Mar lugar de brincar de ser eu. É como
se toda força do corpo se renovasse ali na água e sal e areia e vento e
horizonte. É como se só ali, imersa, aquática, corpo encontrasse olhos e
encontrasse alma e encontrasse cabelo e encontrasse o presente e tudo se completasse – tudo em unidade plena de existência – e
isso é então a vida possível.
E agora,
assim longe, seca, fico tentando segurar cada grão daquela areia em minhas
mãos. Mesmo se só ficar um grão, ainda sim, alguma memória de que estou viva
restará.
E poderei
permanecer na beira, sem tombar, até o próximo mergulho.
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