domingo, 11 de setembro de 2011

A baleia






















A baleia é um animal enorme. É mamífera. É marítima.
Um corpo todo tão grande, todo ele couro rijo escorregadio e pulso latente.
Sua existência encerra em si o milagre da infinitude do oceano. Pois é ele sua morada, espaço selvagem para nadar livremente para a vida e para a morte.

Toda vez que você encontrar uma baleia em seus caminhos oceânicos, saiba que a vida está querendo muito te encontrar. Mas não se vê baleias na praia, nem se nadarmos rumo ao horizonte. É preciso pegar mesmo o barco, navegar bem longe, ultrapassar a borda do mar e aí sim: esperar com o coração em maresia.

A maresia é uma sensação, quase não existe verdadeiramente, pois só se sabe dela quando a própria mão toca a própria pele e o olfato confirma essa sorte. A maresia sou eu olhando o mar e seus animais.

Os animais existem para dar humanidade aos seres que pretendem ser humanos. Eles mostram sem querer que a vida vai muito além de sofrimento. Mostram que é preciso saber mesmo sentir cada dor. Mas sentir não é pensar, nem muito menos interpretar.

A baleia não interpreta o sal em seu couro vivo. Ela aceita, recebe com abertura, assim como as conchas aceitam as pérolas que vêm por dentro. A árvore com galhos e folhas aceita o vento. O vento aceita os obstáculos.

Obstáculo é um anteparo que não serve para bloquear, que não serve para paralisar, que não serve para inibir, nem desistir. Obstáculo é o tempero da existência natural. A vida sem obstáculo é a morte.

A morte é o descanso merecido após vividos tantos obstáculos. Quando se aceita cada obstáculo, reconhece-o, trabalha-se nele e com ele, ama-o e ultrapássaro, morre-se bem cansado. Isso deve ser felicidade.

Tenho em minhas mãos de maresia uma concha bem fechada que guarda secretamente uma pérola negra. A pérola está totalmente bruta e virgem. E com ela mora todo o prazer de morar no mais profundo mar.
Meu obstáculo ao gozo de vida é a concha. Apenas isso.


Esquecida em sofrimentos ancestrais que não vão se explicar,
nego embate com a concha.
Assim, ela vence e fica toda com a pérola.

Espero.

O vento deve dissolver tudo, até o que não se explica.
Quando a concha for, finalmente, areia e voar, a pérola negra bruta e virgem será minha


Um comentário:

Maysa Lepique disse...

na imagem: ballenas vindas diretamente da Colômbia, presente de Marie.