domingo, 4 de dezembro de 2011

Nuvem


O domingo amanhece fresco e, calminho, o sol vai chegando.
É mesmo manso o dia por fora de mim, mas dentro...
As crianças não estão e o silêncio da casa aperta meu coração numa saudade chorada baixinho.
Não passo a tarde só, mas quase temo a liberdade quando o que queria mesmo era ficar esparramada entre os pequenos, seus olhares, suas vozes, suas mãos, seus beijos.
Tranquilo mesmo o dia se anuncia, mas dentro o vulcão vai subir.
Sabendo com o profundo do meu chão que não posso ir à festa de aniversário daquele amor infinito; querendo tanto não misturar minhas escolhas com o bom caminho do teatro que verei hoje à noite; intuindo o coração bem na beirinha de um abismo severo como criança que experimenta inocente um veneno letal.
A vida pesa às vezes disfarçada de alegria solar.
Nuvem que atravessa céu azul, traz a sombra com vento gelado, mesmo o sol ali presente astro potente.
Nuvem vem por dentro, vem com sopro de Iansã porque hoje é seu dia e ela vai gritar.
Não adianta correr que a guerreira grita por dentro e abalada tudo, rouba suas pernas e lhe faz ver o chão com seus minérios expostos feito chagas.
Não é de mar que escrevo hoje, mas de quando a concentração do sal aumenta de mais e a pele resseca, o olho arde e a boca cala.
O sal do inevitável, da escolha feita por falta de opção, da música que intenciona mas não consegue embalar, da calma que bagunça, do caos de não se saber.
Da impressão que ela, a vida, ainda não é minha totalmente.
E ainda assim, Iansã releva na fúria de seus raios que não se volta atrás a partir daqui. Revela que há sentido de vida no passo dado com firmeza e integridade. E que o aprendizado não se esgotou e não se esgotará_ ainda há muito o que trilhar. A preguiça, hoje, desconheço.
Mesmo ruindo por dentro, não estremeço nem por um segundo. Olho firme e sigo.
Quando a folga acabar, terei o conforto da rotina com meus amores mais profundos e que não me deixam cair.
A nuvem sempre passa. Meu céu abre. Eu aquieto, ainda muito quente, e continuo.



Um comentário:

Anônimo disse...

Desenhar nosso próprio caminho, não é possivel?

Esperar opções? E o correr atraz?

Eu já acreditei muito na força dos outros, cada vez mais vejo que só adianta seguir a minha.

As vezes paz é bom, para não ficar queimando e nem se arrepender do tempo perdido.

Boa sorte em tua busca...