terça-feira, 10 de novembro de 2009

Segunda

Do primeiro filho não escrevi cotidiano. Meu pequeno Francisco, doce, carinhoso e tão querido menino. Mas de Helena vou escrever.
Hoje ela está com dezesseis dias. Não escrevo agora do que já passou, mas aos poucos.
Agora escrevo mesmo do presente que vivemos. Essa noite ela não me deixou dormir. Acordou de hora em hora para mamar bem pouquinho e voltar a dormir.
Tenho vontade de chorar de cansaço e quero que por magia ela durma quatro horas seguidas.
O dia ontem foi muito difícil, a vida era dura e os amores se estranhavam como se não houvesse todo o ontem. Meu sangue esquentou de raiva e minha voz silenciou num grito seco.
Pode isso influenciar o sono da pequena? Envenenar o leite?
Hoje ela está acordada desde às sete e pouco da manhã. Já mamou algumas vezes e o desejo de dormir um pouco me faz pensar que meu leite deve estar fraco ou ralo. Minhas costas ardem.
Alimento minha ansiedade de morte.
O parto é o encontro amoroso e violento entre a morte e a vida – desse encontro vai toda intensidade de cada oposto se multiplicando em contradições e revelando todo o mistério da Natureza.
Depois deveria ser só vida, mas tudo o que se vive distante da Natureza é morte. Então fica assim, morte e vida em batalha amistosa e perigosa até que a mulher se encaixe na vida cotidiana outra vez.
Vida cotidiana que é menos vida que a vida Natureza. Mas ali é possível amar calmamente, sem violência de morte.

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