terça-feira, 10 de novembro de 2009

Madura aos dezesseis dias

É toda a maciez. Ela é a delicadeza em forma humana e pequena.
Pouso vagarosamente a mão sobre sua mão, aliso cuidadosa. O carinho é pra mim também.
Passo o rosto pelo seu cabelo colorido e as costas das mãos sobre seu rosto simples expressivo.
A mesma qualidade de vida de um bebê que revela tanta fragilidade e dependência, revela também plenitude de ser humano.
Ontem ela fez um exame muito violento que consistia em furar seu pé e apertá-lo até que seu sangue colorisse círculos impressos num papel de protocolo. Já se nasce com protocolos e notas de desempenho. Suas notas foram nove e dez até agora. Do Francisco também.
Mas o tal exame foi terrível. Helena chorava suando e gritado. Mas assim que a coisa acabou, o choro cessou e foi como se nada houvesse. Não havia sofrimento.
Quem sofre são os crescidos. Francisco já sofre e usa o choro para atrair plateia, assim ganha um aconchego a mais. Mas Helena que ainda não tem esses recursos, só está recebendo por enquanto, não sofre. Reclama da dor, muito, e quando acaba, acaba.
Tão madura atitude em tão pequena criança. Quisera eu ser assim também.
Mas que faço se não sofro? Periga ser ternamente feliz e não almejar mais nada.
Recebi um email de uma amiga perguntando sobre uma possível ação em reação a um evento contra uma moça que foi expulsa da faculdade por usar minissaia. Sim, andei pensando nisso em casa com Helena no colo. Pensei em muitas mulheres andando de minissaia pela cidade, como um exército de pernas a mostra.
Aqui de casa não farei nada. Estou muito envolvida e ocupada de minha futura mulher e temo por seu futuro. Tanta delicadeza e plenitude irão à prova em breve e há que ser mulher forte para não perder sua Natureza essencial de nascida viva.
Este mundo de hoje é de morte. A arte que se faz é para lutar contra a morte dos que não querem morrer tão forçosamente silenciados. As mulheres têm aberto gritos que não são ouvidos. Preciso ensinar Helena a falar e ser ouvida.

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