É de pegar mesmo essa mulher pelos cabelos e amarrar na minha dança.
Eu sou bem morena e suo bastante.
A gente gruda. Ela é da flor do sal e eu sou do funk.
Vão encarnando em nós as coisas da terra, as entidades de muito tempo, os ritmos mais primitivos, as vozes mais graves e doídas. A gente dança e traz nas mãos bem ásperas toda a reverência que merece ser feita.
Quando pisarmos novamente os solos da vida, será em homenagem às mães.
Quando cantarmos novamente as melodias mais de sangue, será em olhos bem abertos, pés bem firmes no chão, certeza bem plena no pensamento e na alma.
A gente não casa, a gente não segura, a gente vive cada encontro com a intensidade do fim.
As morenas são assim bem repentes.
A gente abre feito flor. Ontem botão e já agora –
A gente cobre seu topo mais alto de sal. A gente deixa sua pele toda coberta de sal.
Vai ficando tudo tão branco que de não conseguir enxergar do ofuscamento trazemos a água e lavamos tudo. -A gente vem em enxurrada e lava tudo.
Uma flor pra você, um sal pra mim.
A dança segue dia e outro.
A vida começa e termina no espasmo.
Eu, em braços quentes, sou flor de sal, sou espasmo, sou vida e sou fim.
quinta-feira, 26 de maio de 2011
segunda-feira, 23 de maio de 2011
Sal
Era outono quente.
Entrei na casa, vivi seus cheiros.
Abri bem ampla essa porta
E roubei um pouquinho do sal ao sair.
Trago comigo.
Ao longo do dia,
Vejo com olhos mirando pra dentro -
É o mesmo calor a correr por aqui.
Já não sei ontem e hoje.
Sei mesmo é do gosto do sal.
Sei escorregar as mãos na pele molhada.
Sei ser maresia:
Chegar no litoral é respirar com a pele.
Entrei na casa, vivi seus cheiros.
Abri bem ampla essa porta
E roubei um pouquinho do sal ao sair.
Trago comigo.
Ao longo do dia,
Vejo com olhos mirando pra dentro -
É o mesmo calor a correr por aqui.
Já não sei ontem e hoje.
Sei mesmo é do gosto do sal.
Sei escorregar as mãos na pele molhada.
Sei ser maresia:
Chegar no litoral é respirar com a pele.
domingo, 22 de maio de 2011
Náufrago
Vazio.
Assim pisava firme marinheiro o chão de cal.
A cidade era amarela e o chão era de cal.
Seu corpo muito grande pesava e aumentava o cansaço nas pernas.
Seu peito doía, mas não sabia de onde, de quando.
Sabia do mar em seu pensamento a vagar.
Sabia que era vida aquilo que seus olhos encontravam nas ruas da cidade.
Sabia que algo muito seu afundara com o barco nas profundezas escuras do mar e havia uma vontade toda honesta de recuperar em si o que via no rosto das pessoas soltas nas ruas.
Olhava tantos olhos e percebia que faltava aquela vida nos seus.
Era sua história a querer ser construída de novo. Bem de um início, da saída viva do mar, a partir de seu corpo mesmo, assim como fazem as crianças descobrindo o mundo - As sensações do corpo,
A percepção pura dos sentidos
Sem razão que censure,
Sem lógica que enquadre -
só a vivência verdadeiramente plena de quem não tem ao que remeter.
Era coragem mesmo o que sentia. Depois de toda aquela escuridão, depois de todo aquele ar que não havia, era deixar o sol chegar primeiro manso, depois bruto como ele aparentava ser e esquentar os ossos gelados.
Ele caminhava grande e manso. Não estranhava, não julgava, não pensava.
Olhava apenas, admirava e conhecia.
Ela era só uma brisa. Percorria muitos corpos recolhendo histórias para compor ficções.
Recolhia pensamentos, desejos, tristezas e ambições.
Criava enredos, fingia ser dor e prazer, ecoava gargalhadas, trançava nos pés das crianças e apressava por qualquer caminho possível.
Havia um pulso arrítmico em seu vôo, uma desordem seca um pouco áspera, uma ansiedade por completar a história.
Passando assim despercebida, mirou o náufrago enquadrado por uma casa laranja e verde. A casa sorria muito para ela. O homem parado percebia a leve mudança de temperatura. A brisa procurava seus olhos, queria roubar sua história. O homem percebeu sua intenção inadequada e invasiva e sorriu.
.Inversão.
Surpresa, cheia da novidade de não saber daquilo, parou repentina e deixou que os olhos do náufrago mergulhassem em seu acervo de vidas. Não quis sugerir, ofereceu apenas.
Cuidadoso, cabendo tão bem naquele corpo grande e quente, pousou a mão pesada sobre o pulso descompassado e conduziu novamente a brisa ao seu suave movimento.
Não pegou nada. Conheceu apenas. Olhou com respeito, inteireza e dignidade de quem nasce do mar e não despreza nunca a escuridão que vai por dentro.
Um ritmo possível se estabeleceu. Ela seguiu seu vôo em leveza plena. Poderia ser de novo aquela borboleta que pousou sobre Luanda. Poderia ser aquela pássara de saia de penas verdes que se transformou em mulher de terra fresca e úmida. Aproveitava o cheiro de maresia que brotava de si, não deixava rastro, levava tudo e não buscava mais nada. Era apenas. [Ser apenas.]
Ele sorriu. Já não estava vazio. Tinha memória do sol quando a brisa chegou, tinha memória do arrepio quando a brisa se foi. Podia carregar a lembrança da sensação de conhecer novas possibilidades, de optar apenas por tocá-las e guardar em suas mãos um pouco do que aquela brisa lhe oferecia.
Seu olhar emergia em água clara de sorriso de criança
Um olho para cada criança
Já era pai agora, já era mais que um náufrago, era uma história começando a ser contatada
Assim pisava firme marinheiro o chão de cal.
A cidade era amarela e o chão era de cal.
Seu corpo muito grande pesava e aumentava o cansaço nas pernas.
Seu peito doía, mas não sabia de onde, de quando.
Sabia do mar em seu pensamento a vagar.
Sabia que era vida aquilo que seus olhos encontravam nas ruas da cidade.
Sabia que algo muito seu afundara com o barco nas profundezas escuras do mar e havia uma vontade toda honesta de recuperar em si o que via no rosto das pessoas soltas nas ruas.
Olhava tantos olhos e percebia que faltava aquela vida nos seus.
Era sua história a querer ser construída de novo. Bem de um início, da saída viva do mar, a partir de seu corpo mesmo, assim como fazem as crianças descobrindo o mundo - As sensações do corpo,
A percepção pura dos sentidos
Sem razão que censure,
Sem lógica que enquadre -
só a vivência verdadeiramente plena de quem não tem ao que remeter.
Era coragem mesmo o que sentia. Depois de toda aquela escuridão, depois de todo aquele ar que não havia, era deixar o sol chegar primeiro manso, depois bruto como ele aparentava ser e esquentar os ossos gelados.
Ele caminhava grande e manso. Não estranhava, não julgava, não pensava.
Olhava apenas, admirava e conhecia.
Ela era só uma brisa. Percorria muitos corpos recolhendo histórias para compor ficções.
Recolhia pensamentos, desejos, tristezas e ambições.
Criava enredos, fingia ser dor e prazer, ecoava gargalhadas, trançava nos pés das crianças e apressava por qualquer caminho possível.
Havia um pulso arrítmico em seu vôo, uma desordem seca um pouco áspera, uma ansiedade por completar a história.
Passando assim despercebida, mirou o náufrago enquadrado por uma casa laranja e verde. A casa sorria muito para ela. O homem parado percebia a leve mudança de temperatura. A brisa procurava seus olhos, queria roubar sua história. O homem percebeu sua intenção inadequada e invasiva e sorriu.
.Inversão.
Surpresa, cheia da novidade de não saber daquilo, parou repentina e deixou que os olhos do náufrago mergulhassem em seu acervo de vidas. Não quis sugerir, ofereceu apenas.
Cuidadoso, cabendo tão bem naquele corpo grande e quente, pousou a mão pesada sobre o pulso descompassado e conduziu novamente a brisa ao seu suave movimento.
Não pegou nada. Conheceu apenas. Olhou com respeito, inteireza e dignidade de quem nasce do mar e não despreza nunca a escuridão que vai por dentro.
Um ritmo possível se estabeleceu. Ela seguiu seu vôo em leveza plena. Poderia ser de novo aquela borboleta que pousou sobre Luanda. Poderia ser aquela pássara de saia de penas verdes que se transformou em mulher de terra fresca e úmida. Aproveitava o cheiro de maresia que brotava de si, não deixava rastro, levava tudo e não buscava mais nada. Era apenas. [Ser apenas.]
Ele sorriu. Já não estava vazio. Tinha memória do sol quando a brisa chegou, tinha memória do arrepio quando a brisa se foi. Podia carregar a lembrança da sensação de conhecer novas possibilidades, de optar apenas por tocá-las e guardar em suas mãos um pouco do que aquela brisa lhe oferecia.
Seu olhar emergia em água clara de sorriso de criança
Um olho para cada criança
Já era pai agora, já era mais que um náufrago, era uma história começando a ser contatada
domingo, 1 de maio de 2011
Era fotógrafa
Já não era mais antiga, não.
Passava dessa fase há tempos e havia mesmo juventude nova em seus olhos.
Agora era fotógrafa e ficava a mirar suas fotos de viagens que o amor fizera.
Tinha coragem de dizer bem assim: “o amor!”
Mesmo que na época atrás o combinado era não falar, pois daquele sentimento tão intenso e ancestral escolheu com o menino não nomear.
Mas já era longe o tempo daquilo tudo. E ela não fazia esquecer. Hora e outra remexia aquelas fotos e via as mãos bem firmes a buscar lembranças quentes.
Era sempre assim. Dava noite, só escutava os vizinhos e pensava que não ia mesmo na festa. Mesmo agora sendo jovem, não iria em festa.
Mas outros dias, talvez. Era capaz até de dançar e rodar uma saia florida pisando tonta a areia e ardendo os pés arranhados.
Andaria descalça pela rua e deixaria machucar. Não tinha medo de sangrar.
Antiga ou jovem, sabia mesmo que dor é de se sentir calada. Dança e ferida andam juntas nessa jornada de viver o que se é.
Não sentia mais medo algum. Sabia que não poderia chamar o menino para comentar as fotos que encontrava às noites. Mas se muito no acaso encontrasse, saberia de olhar tudo mesmo que ainda vive de “amor!”.
Deixando a nova juventude, seria apenas só. Era assim mesmo que iria agora. Só.
Achava bom porque dava bem pra mirar firme o que interessa. Não dispersava mais.
Via os pequenos, via os heróis com seus dragões de cospe fogo, via as palavras saindo aos treinos em repetição e por mais que repetisse repetisse não cansava de ouvir e ouvia sempre com surpresa e um carinho de profunda mãe.
Mirava já mais no trabalho que trabalhava muito. Ia aprendendo de número, de lei, de palavra, de pessoa, de cumprimento, de bom dia e boa tarde. Ia aprendendo coisas tecnológicas e usava da cabeça até os dedos, aprendia a vestir roupas tecnológicas com a amiga de lá longe. Aquela amiga de muito muito coração e conhecimento.
Inventava que ela mesma era tecnológica e podia migrar seus conteúdos por tempos diversos e fingir de si mesma uma ficção que enganasse a todos e até ela mesma.
Ia assim pretendendo ser segredo o que insistia em publicar. E viriam também as fotos das meninas... Aí sim! Quanta delícia em ver as meninas em seus olhares desenhados, em seus detalhes mais ou menos escolhidos, em suas palavras trêmulas e verdadeiras. Era disso que gostava: ficar olhando as meninas e brincando de fotógrafa.
Pensava naquela Pratika que precisava arrumar. Era do pai, mas o pai não era dela. Então adiava mesmo o conserto e não sabia mirar bem ângulo que dissesse aquelas poesias de enquadramento e texturas e distâncias e cores. Ficava de brincadeira e depois não via nada que havia fotografado! Como escapam as imagens de suas mãos. Só sabe fotografar com palavras? Essas sim, essas eram mais dela do que as imagens. Nem queria ficar muito a rodear com as imagens que não via pois ia mesmo escrevendo e aí percebia muitas formas.
Passou então a fotografar os próprios sonhos e aproveitava que a máquina era mesmo quebrada e sabia fazer coisas erradas. O pai jamais saberia e então não falaria bem duro que o serviço estava aquém.
Nada. Ninguém poderia ver as fotos que fazia dos sonhos.
Claro, porque sempre estavam dormindo que é quando os sonhos mais de verdade aparecem de susto.
Ficava também dormindo de leve sendo poeta fingidora.
Esperava bem o escuro da noite. Torcia mesmo para que a gata não percebesse e a pegasse saindo de casa, pois a gata era de rua noturna também, mas saia aos miados e acordava seus modelos de sonhos...
Então era dupla para enganar: modelo e gata.
Tendo bem seu o silêncio, era agir o ofício artístico de transformar em imagem do outro aquilo que era imagem sua, pois a criava primeiro em sua cabeça.
As pessoas falam isso: “você está bem nessa foto!”. Mas esse “você” é o fotografado, não o fotógrafo! Então não é esse “você” que está na foto! Mas o você que o fotógrafo vê, portanto é o próprio fotógrafo quem está em todas as suas próprias fotos!
O artista faz obra de si mesmo, mesmo quando olha para fora, pois seus olhos sempre são internos.
A arte é esse jogo de dentro e fora.
Tudo escuro. Pegava a máquina de transposição e buscava um alvo. Mirava bem em seus olhos e imaginava tudo o que ia por dentro do outro, por fora dela, por dentro dela e fazia forma ao outro.
Flash de luz de vela, flash de raio de sol, flash de oblíqua onda de mar, flash de vento bem raspando as costas, flash do olhar do menino. Tava feito!
Era obra muito dela mesma essa fotografia secreta do sonho do alvo. Todo alvo era bom nas mãos de imaginação dela.
Tudo quanto era história ela podia viver e amar como se fosse sua.
Ia vivendo assim, de histórias que não eram suas e já eram suas nas fotos da máquina quebrada. Era Pratika.
Resolvia bem os enquadramentos e as luzes adequadas, também acertava a música, o cheiro e o gosto, pois para a foto sair mesmo completa, precisa ser assim de todos os sentidos, se não faltava qualquer coisa de sua ainda.
Não era de envergonhar. Se nem era mais antiga, nem jovem. Era simplesmente.
Era fotógrafa daquilo que inventava ser.
Passava dessa fase há tempos e havia mesmo juventude nova em seus olhos.
Agora era fotógrafa e ficava a mirar suas fotos de viagens que o amor fizera.
Tinha coragem de dizer bem assim: “o amor!”
Mesmo que na época atrás o combinado era não falar, pois daquele sentimento tão intenso e ancestral escolheu com o menino não nomear.
Mas já era longe o tempo daquilo tudo. E ela não fazia esquecer. Hora e outra remexia aquelas fotos e via as mãos bem firmes a buscar lembranças quentes.
Era sempre assim. Dava noite, só escutava os vizinhos e pensava que não ia mesmo na festa. Mesmo agora sendo jovem, não iria em festa.
Mas outros dias, talvez. Era capaz até de dançar e rodar uma saia florida pisando tonta a areia e ardendo os pés arranhados.
Andaria descalça pela rua e deixaria machucar. Não tinha medo de sangrar.
Antiga ou jovem, sabia mesmo que dor é de se sentir calada. Dança e ferida andam juntas nessa jornada de viver o que se é.
Não sentia mais medo algum. Sabia que não poderia chamar o menino para comentar as fotos que encontrava às noites. Mas se muito no acaso encontrasse, saberia de olhar tudo mesmo que ainda vive de “amor!”.
Deixando a nova juventude, seria apenas só. Era assim mesmo que iria agora. Só.
Achava bom porque dava bem pra mirar firme o que interessa. Não dispersava mais.
Via os pequenos, via os heróis com seus dragões de cospe fogo, via as palavras saindo aos treinos em repetição e por mais que repetisse repetisse não cansava de ouvir e ouvia sempre com surpresa e um carinho de profunda mãe.
Mirava já mais no trabalho que trabalhava muito. Ia aprendendo de número, de lei, de palavra, de pessoa, de cumprimento, de bom dia e boa tarde. Ia aprendendo coisas tecnológicas e usava da cabeça até os dedos, aprendia a vestir roupas tecnológicas com a amiga de lá longe. Aquela amiga de muito muito coração e conhecimento.
Inventava que ela mesma era tecnológica e podia migrar seus conteúdos por tempos diversos e fingir de si mesma uma ficção que enganasse a todos e até ela mesma.
Ia assim pretendendo ser segredo o que insistia em publicar. E viriam também as fotos das meninas... Aí sim! Quanta delícia em ver as meninas em seus olhares desenhados, em seus detalhes mais ou menos escolhidos, em suas palavras trêmulas e verdadeiras. Era disso que gostava: ficar olhando as meninas e brincando de fotógrafa.
Pensava naquela Pratika que precisava arrumar. Era do pai, mas o pai não era dela. Então adiava mesmo o conserto e não sabia mirar bem ângulo que dissesse aquelas poesias de enquadramento e texturas e distâncias e cores. Ficava de brincadeira e depois não via nada que havia fotografado! Como escapam as imagens de suas mãos. Só sabe fotografar com palavras? Essas sim, essas eram mais dela do que as imagens. Nem queria ficar muito a rodear com as imagens que não via pois ia mesmo escrevendo e aí percebia muitas formas.
Passou então a fotografar os próprios sonhos e aproveitava que a máquina era mesmo quebrada e sabia fazer coisas erradas. O pai jamais saberia e então não falaria bem duro que o serviço estava aquém.
Nada. Ninguém poderia ver as fotos que fazia dos sonhos.
Claro, porque sempre estavam dormindo que é quando os sonhos mais de verdade aparecem de susto.
Ficava também dormindo de leve sendo poeta fingidora.
Esperava bem o escuro da noite. Torcia mesmo para que a gata não percebesse e a pegasse saindo de casa, pois a gata era de rua noturna também, mas saia aos miados e acordava seus modelos de sonhos...
Então era dupla para enganar: modelo e gata.
Tendo bem seu o silêncio, era agir o ofício artístico de transformar em imagem do outro aquilo que era imagem sua, pois a criava primeiro em sua cabeça.
As pessoas falam isso: “você está bem nessa foto!”. Mas esse “você” é o fotografado, não o fotógrafo! Então não é esse “você” que está na foto! Mas o você que o fotógrafo vê, portanto é o próprio fotógrafo quem está em todas as suas próprias fotos!
O artista faz obra de si mesmo, mesmo quando olha para fora, pois seus olhos sempre são internos.
A arte é esse jogo de dentro e fora.
Tudo escuro. Pegava a máquina de transposição e buscava um alvo. Mirava bem em seus olhos e imaginava tudo o que ia por dentro do outro, por fora dela, por dentro dela e fazia forma ao outro.
Flash de luz de vela, flash de raio de sol, flash de oblíqua onda de mar, flash de vento bem raspando as costas, flash do olhar do menino. Tava feito!
Era obra muito dela mesma essa fotografia secreta do sonho do alvo. Todo alvo era bom nas mãos de imaginação dela.
Tudo quanto era história ela podia viver e amar como se fosse sua.
Ia vivendo assim, de histórias que não eram suas e já eram suas nas fotos da máquina quebrada. Era Pratika.
Resolvia bem os enquadramentos e as luzes adequadas, também acertava a música, o cheiro e o gosto, pois para a foto sair mesmo completa, precisa ser assim de todos os sentidos, se não faltava qualquer coisa de sua ainda.
Não era de envergonhar. Se nem era mais antiga, nem jovem. Era simplesmente.
Era fotógrafa daquilo que inventava ser.
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