sexta-feira, 17 de julho de 2009

MAPA

da oficina subversões

Veias quentes e vulcânicas transpassam deserto de pernas. Estamos no Saara. Sou a própria areia irrigada de ilusão. Longas, aumentado o volume durante estado interessante, esse clima primaveril que não pertence a esse lugar.
Mais pra cima vem os rios amazônicos, rios caudalosos e multicoloridos. Enxurrada de criação brota das nascentes de rio e rio, e deságua em si mesma, agora bem cristalina, água de oceano profundo, gelado, salgado, desses bons de nadar, da onde não se quer sair, pois percebe-se o próprio útero de Iemanjá.
Mas assim, também parece a Lua, nossa mãe. E o ventre carrega a astronauta em viagem intragalática. Seguindo em órbitas de véus cor de rosa de cetim, atravessa o universo de camadas epiteliais até alcançar o planeta Terra.
Salto para os pés. Pois são de terra. Fui a Luanda – gosto muito – e descobri ser possível ter raízes nos pés, ser um pouco árvore. Então, são meus pés de manguezal, gostam de beira, são de lama, tem no nordeste. Nos pés que estão no chão, lá em embaixo, encontro meu nordeste.
Mas não sou só águas, fogos e lamas. Sou também asfalto, fios e fumaça.
Subindo do mangue pela estrada de arreia até chegar a inundação. Aí é possível pegar um barco a motor e chegar em território elétrico, alta tensão, fios por toda parte, base de experiências físicas, laboratório ultra tecnológico da onde espirram faíscas de luz e força. Peito elétrico, pulsar da metrópole incansável, violenta, expulsiva, São Paulo.
Braços de asfalto quente, hora de pico, vão aos caminhos, servem aos veículos, são receptores de trajetórias paulistanas, de pés corridos, de vôos disfarçados. Tenho os teatros nos braços de piche. Vivem-se aqui vidas de quaisquer, pois é nos braços que somos múltiplas - abraço e, ao ficar vermelho o semáforo, aperto as mãos em tuas costas. Sem perder o ritmo, solto, me viro e já são outras as ruas que encontram.
Tanta poluição só poderia embriagar o pensamento. Cabeça às voltas, nunca fixa moradia. Errante, morador de rua, busca albergue só por uma noite, mas não tem o documento. Falta-lhe a identidade.
Mas se for possível encontrar travesseiro na beira da estrada de Cubatão, vê-se apenas a chama, o céu escuro e a grossa fumaça branca-cinza a pesar. Dissipa-se, descansa-se de si mesma, da própria sujeira que faz de si.
A cabeça fica assim na beira da estrada, onde aceleramos buscando atravessar depressa e chegar, finalmente, em praia calma.
Se existe algo além desse mapa físico que sou, deve ser uma praia calma, de litoral recortado, cheio de pequenas baías, onde as ondas embalam a redenção de se ser humana.

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