Nunca vi tal tabuleiro e mesmo assim, sou dita brasileira.
Quem sabe definir mora bem longe daqui, olha com olhos curiosos de explorador e define nome que me contenha.
Identidade é coisa pro outro, aqui quem sabe não somos nós. Moramos em terras diversas e imensas, somos diversas. Mas há quem diga que não: da linha pra baixo, nosotras somos las ticas!
Então é minha fez de ficar curiosa, já que soy latina, quero hablar espanõl. Mas não consigo, minha língua é outra - não que deva me orgulhar de suas origens, pero no hablo español...
Pedro disse que a língua do futuro é o portuñol e Jesusa disse que o próximo presidente dos EUA será uma mulher latina!
Nós, brasileñas, em terras norte americas somos excêntricas, pero no mucho; somos coloridas, pero no mucho; somos bem recebidas, pero no mucho. Porque não somos índias, não somos étnicas, não seremos peça de museu como prevê Luisa. Somos mulheres comuns, moramos na cidade, somos americanas também.
Entre a academia do império e as aldeias que insistem em sobreviver sobraram nosotras, interrrogação e reticências.
A nós não cabem mais as exclamações, a mistura é tanta que parecemos com um pouco de tudo e ficamos no meio.
Mas se é mesmo pra identificar e enquadrar, fico no sul. Prefiro ser latina, prefiro arrastar a chinela a subir no salto fino (cairia com certeza). Prefiro os bordados, prefiro o chão de terra batida, prefiro o canto e a roda. Mas, claro, levo meu laptop.
Estamos no meio, somos a própria contradição, somos as baianas américanizadas, somos as minas, las ticas, as latinas, las brasileñas. Somos brasileiras.
Um comentário:
MAracuja
acabei de ler e chorei.
Chorei com olhos de quem ja viu o mar. E o gosto da lagrima tem gosto de mar. Chorei só para matar a saudade de mar.
Ela escorreu pelo rosto lavando a mascara de brasileira que não consigo ver.
A conheço pelo olhar do outro, do outro que até conhece o mar dos tupi, mas nao o tem dentro de si.
"Sei bem como são as brasileiras" ouvi, e fiquei curiosa por saber mais sobre.
Sendo eu uma delas e nao me sabendo bem ainda, talvez esse olhar estrangeiro pudesse me identificar.
Infelizmente, descobri que esse olhar estrangeiro é incapaz de nos traduzir.
Falo português, mas aqui outros não brasileiros também falam. Não estou totalmente sozinha na língua, mas continuo sozinha no continente. Aqui também somos as únicas latinas que não hablam espanhol.
Tenho medo do olhar estrangeiro que reduz, que simplifica, que abrevia o que precisa ser dito com todas as palavras.
Tenho medo do meu olhar estrangeiro que não entende o olhar do outro e o simplifica também.
Sendo portunhol a língua do futuro ele precisa urgentemente ser ensinado e ser aprendido.
Tenho medo da nossa "não comunicação" seja em que língua for.
Somos brasileiras coloridas, de sorriso fácil, do quadril que acompanha o movimento do passo.
Não somos melhores que as "cinderelas londrinas" ou que as "Liliths francesas"
Somos apenas aquelas que aprenderam que o gosto da lágrima é bem parecido com o do mar, e por isso sorri.
E se o estrangeiro "sabe bem como são as brasileiras"
Eu não sabendo bem
Sou.
E o que ele não sabe é que atrás de nós, do lado esquerdo
tem um indía anciã, de pele vermelha igual fogo e olhos vidrados de feiticeira.
que atrás de nós do lado direito
tem uma preta velha, de lábios carnudos e grandes olhos
e que na nossa frente, pode ter o que tiver
Postar um comentário