O
continente é realmente
um lugar
bem seguro, onde se pisa firme
_sim, é
verdade que a firmeza mesmo está nos pés e não no chão, mas isso já seria outro
texto
O
continente, continuamente,
traz-nos
essa sensação de terra a se pertencer
_isso
mesmo já é mais uma ilusão que certeza, mas não pra agora
O que
importa agora é o MAR
Onde eu
jogo fácil meu corpo
Onde não
perco meu limite, nem escapo de mim
Meu
caldeirão de bruxa
O mar bem
meu de ser tão ampla no universo
Aquática
O mar que
não tem linhas no mapa
E os
limites são exatamente os corpóreos
_para
todo e qualquer corpo há um limite
para
muitos corpos em comunhão, não_
Onde os
cheiros são bem internos e naturais,
pois a
natureza do homem se mistura com as verdades naturais
Onde se
nada livremente até o cansaço inevitável dos braços
O cansaço
livre, de quem não quer cruzar fronteira, mas nadar apenas
Onde não
há fronteira e todos os seres nadantes encontram-se em ambiente acolhedoramente
salgado e azul
Bem que
deveria ser assim o ar que permeia tudo, até eu e você
O ar
poderia ser sempre de maresia daquela boa e perfumada
E a cada
passo que déssemos em direção aos novos lugares
a única
coisa a nos separar seria o limite de cada corpo
_que isso
também se ultrapassa quando se quer é bem verdade, mas aí falaria sobre os
animais que habito; não agora, pois já contei demais
A
Palestina seria para mim e para você,
A África
seria muito mãe de todos nós pra valer e todos os nossos olhos brilhariam,
irônicos da aridez do Saara, pois o mar estaria entre nós
A América
teria ainda mais línguas e nossos ouvidos dançariam dessa música ultra
melódica, sem carregar constante o peso surdo da colônia
Cada
linha no mapa seria de serpentina de festa carnaval, quando uma alegria existe
para se habitar
Quando o
corpo boia pleno no mar, os olhos alcançam o céu
Azul e
azul num infinito generoso de humanidade possível
Fazendo
do Mar o continente possível da humanidade
E do céu,
um limite tênue a ser ultrapassado em ondas sonoras e marítimas
para toda lágrima derrubada de coragem