segunda-feira, 11 de agosto de 2008

rocha

Quando essa parte terminar, vou fazer o adeus ritual.
Vou fechar essa porta e desligar cada cabo de conexão real e ilusório.
Muito mais imaginação e desejo que concretude.
Muito mais eu comigo do que nós.
Assim é ruim.
Mas também traz algo novo. Venho criando rocha.
Vou transformando em minério sólido e forte cada dor dessas.
Dou um passo e levo um empurrãozinho.
Tropeço, mas não caio.
Dói um pouco e levanto.
Silêncio, às vezes quero dar uma chorada só pra tratar da dor.
Passa rápido. A alegria de andar não me larga.
Vou mesmo em frente, olho pra trás com saudades, ar, e já vou.
Quero ser mulher rocha quente.
Firme, não esmoreço, não perco o passo.
Mas continuo móvel, sofro a passagem do tempo, me transformo.
Muto até virar areia e voar pro mar.
Aí serei deusa.
Aí serei eu mesma parte de Iemanjá, não mais sua filha, mas uma de suas estrelas mais brilhantes.
De volta aos braços da água que me gerou, que me chorou e me deixou.
Volto, sou recebida com amor, pois é só isso que existe ali.





foto Maíra Soares

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