segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Filha de Ártemis

A novidade veio alegre e cortante.
Voz que rasga o ar como flecha e acerta o alvo com a frieza da escuridão em noite sem lua.
Muito bem, finalmente o lugar que chegaria. Assim me esperava, assim cheguei.
Não perdi mão da minha dignidade nem por um minuto.
Ilusão, apenas quando em muita solidão.
Desengano, não.
Liberdade e firmeza essas que me deixam preparada para ouvir o oposto do que desejei.
Vida que me ensinou, distancio, acalmo o coração, respiro com razão e me reposiciono com a mesma alegria. Sim, foi cortante, mas quase não sangrou.
Tomo as rédeas que deixei escapar por poucos dias. Olho fixo no espelho do que virá e sigo em frente, cada vez mais forte. Cada vez mais filha de Ártemis.
Quero meu arco e minhas flechas. Fortaleço meus músculos e aconchego a dor na luz do coração. Não escondo, não.
Aproveito e crio mais um pouco, invisto e sei que sairei ainda mais mulher.
Chegará o momento do alívio completo? Tem que chegar. Todos merecemos se percebemos a grandeza dos desafios onde nos lançamos.
Olho o que trilhei e me orgulho.
Nada foi em vão, não é e nem será.
O sentido da existência está nela mesma, no ar de respirar, na terra de brotar, no fogo de arder e na água de fluir e banhar e chorar.
Água que fertiliza a terra. Ar que incendeia o fogo.
Elementos do meu corpo fértil dessa própria existência.
Aceito esse desafio: espalho o filho pelo mundo muito mais mãe do que preciso do pai.
Avalio o risco e trago para minha casa, meu lugar, me protejo e piso firme, olho em frente.
Não minto. Ainda anseio, mas não temo.
E, finalmente, um novo ciclo se inicia.

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