Com areia bem sequinha construí um lindo castelo!
Todo ele era ideia.
Olhava às cegas cada nenhuma pessoa que lá habitava.
Eram vários tipos de habitantes, bem invisíveis, mudos e presentes.
Nós conversámos todo o tempo assuntos vazios de argumentos, mas cheios de exclamações. Falávamos nada ao mesmo tempo, voz sobre voz.
Que diversão aquela da areia fina ao vento...
A água era mesmo rara por ali, por isso todos não bebiam, apenas suavam sede e desejos indisíveis de existência.
Meu castelo ficava em praia de mar vazio, todo ele bem sequinho, igual às gotas de palavras minhas.
Dia qualquer, abrindo em vão o portal secreto do castelo, dei de costas com linha aleatória.
Porque não seguir, se tudo o que eu fazia ali era esperar a tal linha que nunca soube existir?
Meus dedos de giz seguraram firmes a linha e apertaram até se desfazerem em pó de cal.
Era como um sonho de realiadade. A linha transparente de levar a lugar nenhum.
Segui sabida de opção.
Saímos da praia, abrimos trilha na floresta tropical, chegamos no pé da montanha e nos aventuramos por todo seu corpão de chão em inclinação oblíqua, vencemos o topo do infinito, descemos rumo à rua de asfalto, deixamos pés por ali, uma calçada depois outra e mais outra, entramos casa, prédio, obra, barraco, viaduto, chão – tudo quanto é moradia de homem e mulher -
visitamos museu, cinema, teatro e música – tudo quanto é moradia de ar e matéria de homem e mulher -
comemos bem e mal, lavamos mãos e pés e tudo o mais, soltamos o cabelo (eu cabelo, a linha já era solta em linha mesmo), visitamos quarto de sono, de prazer, de dor, de sangue, de apneia, de insônia – tudo quanto é jeito de quarto de homem e mulher e criança.
Até que chegamos lá!
Assim se falava quando alguém vencia o jogo nenhum: chegou lá!
Mui respeitosamente ajoelhei-me sem rebeldia aos pés do rei.
Mantendo o silêncio habitual de voz seca, devolvi-lhe a linha toda que recolhi pelo caminho.
Era transparante, mas enxergávamos bem, o rei e eu.
Amarrou bem firme o ponto que soltara de sua roupa e que deixara escapar aquele tanto invisível de linha até meu castelo.
Quer dizer que mora em castelo também, perguntou o rei sabido.
Sim, pois não, senhor realeza, respondi bem letrada em tratamentos oficiais.
Serás tu alguma rainha destronada?, outra pergunta que estabeleceu, por pura existência, um princípio de diálogo entre nada e ninguém.
Não, sinto dizer-lhe, ó ilustríssimo referência, não há rainha possível em areia seca que não a água inexistente, mais uma vez e ainda melhor repondi-lhe.
Morando em castelo, mesmo que de praia, deves tu ter algum tipo de nobreza... Investigou consigo mesmo. Claro!, concluiu, és princesa esperante!
Aí já sim seria possível!, descobri. O senhor realeza de ilustração é sábio mesmo!, comprovei com resto de linha alguma na mão. Tenho esperado uma vida!
Gostaste muitíssimo da minha roupa nova?, inquiriu.
Certamente que sim, pois da sua linha saí do meu castelo a aventurar-me por lugar nenhum e sinto-me apropriada para gostar das coisas e admirá-las pelo que deveriam ser!, acertei bem.
Pois então saibas que és tu uma coisa de sorte! Abriste a consciência para a auto cegueira e isto é raro! Só as pessoas vencedoras podem mirar-se com tamanha compaixão ignorante! A espera é nunca alcança e a alegria de chegar lá é eufórica e destrambelhada. Nada sabe que não seja erros em sucessão. Olhas para trás, vento levou. Olhas para frente, nada para ser preenchido. Vives num presente de sonho esquecido ao despertar.
Podes casar-se comigo e seremos fieis ao sol que seca sua areia!
Moraremos ambos em lindos castelos!
Todos os povos serão como nós, espelhos em vácuo de imagens!
Viva coisa alguma!
Recebas tua capa real de tecido especial real para vertir nobrezas sábias de valores reais.
Chegar lá é coisa para secos de caminhos.
A roupa de tecido mágico é a pura tentação da vista do vazio.
I’m Nobody! Who are you?
Are you — Nobody — Too?
Then there’s a pair of us?
Don’t tell! They’d advertise — you know!
How dreary — to be — Somebody!
How public — like a Frog —
To tell one’s name — the livelong June —
To an admiring Bog!
(Emily Dickinson)