A chuva não termina.
Se era pra ser acalanto pro sono que já vem, virou pesadelo de chão que falta e parede que escorrega.
Hoje minha casa, agora buraco.
A terra brota do chão viril, musculosa, em erupção quente de cor, gelada de consequência.
A casa de fora outrora nosso pequeno refúgio, tornou-se efêmera como uma peça de teatro tosca que acaba sem aplauso, sem lágrima, sem risada.
Quando acaba é o vazio. O ator está nu de si mesmo diante plateia estranha que não o conhece, nem reconhece.
Resta a casa de dentro, essa sim, pra ser duradoura e tenra.
Parede aqui que não permita fenda, chão que não me falte, teto que se eleve mais e mais, janelas que ventilem meu espírito.
Mas hoje, quem mora nessa casa de dentro não sou eu total, mas as crianças. Eu moro só mãe das crianças, pois o resto de mim, a chuva lavou também.
Quando acabar o verão, o sol maneiro do outono esquentará os buracos que devem ser preenchidos e será tempo de voltar à completude.
Lá vou recolher todas as folhas para que não me faltem no inverno.
Por enquanto vou remediando as goteiras e torcendo os panos.
Seco também o suor de tudo que não consigo fazer.
A inação inunda minha alegria e só o que quero é deixar a chuva acalentar o sono que virá aos pedaços.
Aniversário em verão é assim: ano é quente e colorido, ano é frio e molhado, mais pra cinza mesmo, solitário.