A chave suava em sua mão pequena.
Ao ranger da fechadura enferrujada, lá dentro, se sabia quem chegava.
Sempre à mesma hora, sempre às terças-feiras.
Empurrou com cuidado o portão de ferro e desviou da poça d'água.
O sol brilhava pelo estreito caminho refletindo suas pernas finas.
A saia de algodão era florida, a preferida, mais curta a cada ano.
Gostava de andar lentamente o caminho.
Aproveitava do cheiro das ervas, sempre molhadas de orvalho. E os gatos e os cachorros se confundindo com as sombras das paredes desgastadas pelas chuvas do verão.
O borbulhar da água fervendo para o chá aumentava ao se aproximar.
A menina pegava uma margarida do jardim, batia à porta e entrava fechando os olhos.
Esperava na soleira da porta, estendendo a margarida. Seu sorriso era silencioso e seguro.
A avó aproximava-se, então, pegava na mão da menina e a conduzia ao lugar do dia.
Sua mãe não sabia do encontro secreto das duas.
Toda semana, a avó escolhia uma árvore do jardim, um livro de sua antiga biblioteca e as duas tomavam chá e aproveitavam da história.
Antes do almoço, a pequena se despedia com um demorado abraço e voltava pra casa.
Quando sua mãe perguntava como foi a escola, ela desviava o olhar e dizia:
- Tudo bem, mamãe.